domingo, 6 de julio de 2008

A borboleta

Na casa de Serginho, as coisas também não corriam da melhor forma. Sua mãe trabalhava de atendente numa loja e à noite limpava uma escola para poder manter a casa. Apesar de aparentemente parecer que vivia bem e ao contrário da vida que tinha Carolina, sua casa de excelente aparência, era da sua avó. Por sorte já estava totalmente paga e por este motivo, moravam todos ali.
Conheci Serginho enquanto era professor e lembro-me bem que ele não me parecia uma criança muito feliz. Era tímido e inseguro. Tinha poucos amigos para brincar, mas era apaixonado por animais. Um dia levou uma lagarta e uma borboleta à sala de aula e ensinou aos seus colegas como surgia aquela bela criatura a partir de outro bicho. Todos ficaram encantados à sua volta, mas assim que o chamaram para outra actividade que eventualmente lhe integraria ao grupo, não aceitava de forma alguma. Sempre preferiu estar em seu mundo. Sem grandes amizades.
Carolina me contou que uma vez Serginho lhe propôs em casamento quando ela completou quinze anos de idade, mas que depois disse que estava a brincar. Naturalmente, o rapaz não teve coragem de assumir a façanha do impulso e se arrependeu. Ela disse que não se importou. Sempre o considerou muito como um bom amigo, e era natural que um dia ele confundisse as coisas.

- Carolina está, D. Amélia? - Perguntou Serginho, naquela manhã antes do almoço.
- Não está não, meu querido. Eles foram embora hoje cedo e não sei quando minha neta virá outra vez. É sempre uma surpresa a sua chegada. - Disse D. Amélia, melancolicamente.
- Que pena. - Disse ele, com timidez - Queria lhe mostrar uma coisa.
- Que coisa, Serginho? - Perguntou D. Amélia olhando para a caixinha que ele trazia nas mãos.
- É uma lagarta que estou criando. Hoje mostrei lá na minha Escola e todo mundo gostou muito...
- Todo mundo? - Exclamou D. Amélia a sorrir com a frase entusiasmada dele.
- Quer dizer, quase todo mundo. - Respondeu, sem se importar com o indagação de D. Amélia. - Menos uma menina que entrou na Escola esta semana. Mas não faz mal. Não podemos agradar a todos, não é mesmo?
- É verdade... Não podemos agradar a todos. - Disse ela, lembrando do Fernando e seu problema com a Clara. "Pobre homem," - Pensou ela, "nem imagino por onde irá começar a conversa para resolver este assunto com minha filha"...
- Tenho que ir D. Amélia. Adeus.
O pensamento de Amélia estava muito longe para conseguir ouvir Serginho. Apenas levantou a mão quando percebeu que ele já atravessava a rua e sentou-se na varanda.

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