viernes, 26 de septiembre de 2008

Dúvida cruel

Estou em dúvida se continuo a história de Carolina aqui, donde escrever on line tanto me inspira, ou se vou continuar escrevendo nos meus aposentos, onde crio situações adversas e personagens intrigantes emaranhados em surpresas como tanto a vida nos proporciona... No fundo vai dar no mesmo, sendo eu uma só...
Estou pensando...

miércoles, 6 de agosto de 2008

Mulher malvada

Assim como a tristeza pode levar um indivíduo ao suícidio, a mesma tristeza pode levar o mesmo individuo a actos de coragem.

Fernando chegando em casa com a Clara e Carolina, não falou uma palavra. Se limitou a ouvir Clara disparar com tudo o que tinha a dizer.

- Eu não sei onde estava com a cabeça que vim a casar com você. Se não fosse o meu pai, jamais teria feito tal enlace... E ainda por cima, adoptamos esta menina ingrata que não me quer nem por amiga. Você nem imagina o que tenho sofrido com a falta de carinho de vocês dois. E é por isso que lhe digo, Fernando, que não há maneira de que meu coração venha a ser mais condescendente. Estou isolada nesta casa e sei que tudo o que você queria era voltar para o lado da sua queridíssima e amada Joana...

Carolina ouvia atrás da porta do seu quarto mal fechado e se arrepiou toda quando ouviu o nome da mulher que o seu pai realmente amava... "Joana", seria sua mãe, perguntava-se ela.

- Mas quero lhe dizer, meu grande parvo, que não vai adiantar procurar muito por ela. Da mesma maneira que desapareceu a primeira vez, voltou a desaparecer pelo mesmo interesse. Apareceu-me um dia para me pedir dinheiro e como até tenho um bom coração, dei a quantia que pediu e partiu para parte incerta.

Fernando arregalou os olhos e partiu em direcção à Clara, com os punhos cerrados em sinal de raiva. - O que fizeste com a Joana, Clara? Que maldade já aprontaste, mulher?!... Disse quase cuspindo-a ao falar.

- Calma, homem. Não fiz nada de que o destino não já tivesse se encarregado de fazê-lo. Sua queridíssima engravidou outra vez, só Deus sabe de quem, - Disse ela com tom sarcástico olhando Fernando nos olhos. - E me propôs desaparecer para sempre se eu lhe desse uma boa quantia para ir viver em outro país e eu como boa que sou... Dei.

Fernando não quis acreditar no que estava a ouvir. Sabia perfeitamente que o filho que Joana tinha era dele, assim como o outro do meio. Agora ele sabia que tinha três filhos e viu que já não poderia ter nenhuma ligação com a Clara. Em poucas palavras disse que a deixaria e iria procurar a Joana para viver com ela e os filhos para sempre. Clara riu-se às gargalhadas. Gozava do momento que estava a passar e ria-se de ver a cara de sofrimento do Fernando.

- Não te irrite e decida tão rápido, meu querido. Lamento que seja muito tarde para isto. Não creio que venha a encontrá-la jamais. Ela sabe muito bem o que me prometeu em troca daquele dinheiro...

- O que você fez, mulher malvada? - O que você fez?

martes, 22 de julio de 2008

Porque te quero

Amigos,

A inspiraçao nao acabou, nem o tempo me estar a impedir de escrever... Apenas completo a história em papel para orientar as idéias de forma que haja interesse. Enquanto isto, desejo a todos umas boas férias de verao para quem está do lado de cá ou bom trabalho, para quem está do lado de lá.

(Neste teclado espanhol nao há o "til" comum ao português de forma que o "verao" e "nao"... já fica explicado)

ADORO-VOS!!

domingo, 6 de julio de 2008

A borboleta

Na casa de Serginho, as coisas também não corriam da melhor forma. Sua mãe trabalhava de atendente numa loja e à noite limpava uma escola para poder manter a casa. Apesar de aparentemente parecer que vivia bem e ao contrário da vida que tinha Carolina, sua casa de excelente aparência, era da sua avó. Por sorte já estava totalmente paga e por este motivo, moravam todos ali.
Conheci Serginho enquanto era professor e lembro-me bem que ele não me parecia uma criança muito feliz. Era tímido e inseguro. Tinha poucos amigos para brincar, mas era apaixonado por animais. Um dia levou uma lagarta e uma borboleta à sala de aula e ensinou aos seus colegas como surgia aquela bela criatura a partir de outro bicho. Todos ficaram encantados à sua volta, mas assim que o chamaram para outra actividade que eventualmente lhe integraria ao grupo, não aceitava de forma alguma. Sempre preferiu estar em seu mundo. Sem grandes amizades.
Carolina me contou que uma vez Serginho lhe propôs em casamento quando ela completou quinze anos de idade, mas que depois disse que estava a brincar. Naturalmente, o rapaz não teve coragem de assumir a façanha do impulso e se arrependeu. Ela disse que não se importou. Sempre o considerou muito como um bom amigo, e era natural que um dia ele confundisse as coisas.

- Carolina está, D. Amélia? - Perguntou Serginho, naquela manhã antes do almoço.
- Não está não, meu querido. Eles foram embora hoje cedo e não sei quando minha neta virá outra vez. É sempre uma surpresa a sua chegada. - Disse D. Amélia, melancolicamente.
- Que pena. - Disse ele, com timidez - Queria lhe mostrar uma coisa.
- Que coisa, Serginho? - Perguntou D. Amélia olhando para a caixinha que ele trazia nas mãos.
- É uma lagarta que estou criando. Hoje mostrei lá na minha Escola e todo mundo gostou muito...
- Todo mundo? - Exclamou D. Amélia a sorrir com a frase entusiasmada dele.
- Quer dizer, quase todo mundo. - Respondeu, sem se importar com o indagação de D. Amélia. - Menos uma menina que entrou na Escola esta semana. Mas não faz mal. Não podemos agradar a todos, não é mesmo?
- É verdade... Não podemos agradar a todos. - Disse ela, lembrando do Fernando e seu problema com a Clara. "Pobre homem," - Pensou ela, "nem imagino por onde irá começar a conversa para resolver este assunto com minha filha"...
- Tenho que ir D. Amélia. Adeus.
O pensamento de Amélia estava muito longe para conseguir ouvir Serginho. Apenas levantou a mão quando percebeu que ele já atravessava a rua e sentou-se na varanda.

sábado, 5 de julio de 2008

Herança fatídica

Na manhã seguinte, Carolina despertou ao lado do seu pai. Queria ter certeza que ele se encontrava bem. Passou a mão sobre a sua testa e verificou que tinha um pouco de febre. Desceu para a cozinha e encontrou D. Amélia, também já levantada.
- Vovó, é tão cedo ainda. Já está de pé? – Disse ela, notando que sua avó não estava com bom aspecto.
- Para dizer a verdade, eu não consiguia dormir minha querida, mas não se preocupe. Eu estou bem. Tenho lembrado do seu avô e tenho saudades. Ele sabia lidar com Clara melhor do que eu. Sinto-me impotente.
- Não fique assim vovó. Ela no fundo não é má pessoa. Receio saber que por vezes eu também não lhe facilito a vida. – Disse Carolina, tentando minimizar a dor de D. Amélia.
- Obrigada, minha linda. Tu és uma boa menina, sim senhora. Tivemos sorte em ter a ti na família. Desde pequenina, foste um encanto para nós. Ouve, quero te falar uma coisa...
- Tudo o que tem acontecido é fruto de um acumulo de caprichos de seu avó. Era um bom homem, mas tinha o triste defeito de manipular a vida das pessoas que vinham até ele para pedir ajuda financeira. E por este motivo, até utilizou a nossa própria filha em uma das suas idéias infelizes. Tu serás no futuro a herdeira e responsável pela fortuna da família. - Quer Clara queira ou não!. Seu avó, antes de morrer deixou todos os bens em teu nome, no qual só poderás manipular quando completares a maior idade. Mas há uma parágrafo que ele diz, - Continuou D. Amélia, - que só terás direito a alguma coisa, caso te cases com o filho de Macêdo Perez. Caso contrário, Clara herdará tudo e Fernando não terá direito a nada.
Carolina não queria acreditar no que estava ouvindo, disse-me ela. Foi como se um tornado tivesse dentro da sua cabeça.
- Mas quem é Macêdo Perez? – Vovó, por favor... Não estou entendendo.
- Minha querida, já são tantos os erros nesta família, que eu já nem sei por onde começar para que saibas realmente a sua verdadeira história... – Disse D. Amélia, olhando para o chão com melancolia e vergonha.
- Vovó, temos muito o que conversar... Quero saber qual é a minha história?... Se é por não ser filha de minha mãe, ou melhor, de Clara... Eu já sei!. E tenho muita pena que a senhora não seja a minha avó de verdade. Mas não se preocupe, pois não saberei de outra avó que possa amar mais que a ti.
- Oh, Carolina... – Falou D. Amélia emocionada, abraçando-a. Quem me dera vida e saúde para te ver casar e ter os seus filhos...
- Não creio que me vá casar com o filho deste tal Macêdo vovó... Não creio. – Falou Carolina, delicadamente para D. Amélia. – Sinceramente, preferia morrer pobre do que casar-me sem ser por amor.
- Oxalá as coisas pudessem ser diferentes, Carolina.
- Vovó, sinto muito, mas agora só há uma coisa que me preocupa... O meu pai que está lá em cima com febre. Desci para vir buscar um copo d’água e um pano para molhar e colocar na sua testa. - Disse Carolina, tentando desviar o assunto que tanto lhe incomodava.
- Meu Deus! – Exclamou, Amélia. Porque não me disse logo? Seu pai merece todos os cuidados neste momento. Falou e acompanhou Carolina com um trapo limpo e um copo com água.
Fernando estava apenas febril e não se sentia nada mal. Apenas se encontrava cansado e ansioso por voltar para casa e ter forças para procurar finalmente seu verdadeiro amor. Acabando de uma vez por todas com tanta infelicidade.
Depois do coma, Fernando despertou como se tivesse passado uma experiência de vida e morte. Não lembrava de nada em concreto, mas tinha a sensação de que estava andando no caminho errado. Assim que abriu os olhos no Hospital e olhou as brancas paredes à sua volta, sentiu uma angústia tão grande que invadiu a sua alma de tristeza, mas ao mesmo tempo esta tristeza tinha vindo acompanhada de coragem. Uma coragem que segundo as palavras de Carolina, enquanto contava a mim sua desafortunada história, levou também à sua própria vida a modificar-se.

viernes, 4 de julio de 2008

Dominica

D. Amélia naquele momento se apoiou na cadeira para não cair e como uma retrospectiva, as lembranças lhe vieram à mente. Continuou com a mão levantada até a boca e começou a chorar. A princípio, não sabia distinguir o sentimento que estava passando, mas depois de se recuperar, sabia que chorava por toda a história de vida da sua filha, parecer uma novela. Sentiu pena da sua pobre criança, porque desde seu nascimento, a vida não lhe sorrira com perfeição. Era uma criança desprovida de beleza, e o que lhe permitiu ter amigos foi a soma de dinheiro que a família possuía. Com melancolia pensou como deveria ter crescido com amargura. E naquele instante, com as atitudes que lhe apresentou, finalmente teve certeza do que tanto temia. Clara iria se vingar da vida impedindo que as pessoas fossem felizes.
- Papá tem a culpa de tudo o que estou a passar agora... – Disse Clara, com os olhos vermelhos de raiva e emoção. – Ele é que não confiou em mim e sequer imaginou que eu poderia conquistar alguém por meus próprios meios. Não sou bonita, mas sou inteligente. Sei o que tenho que fazer para conquistar um homem. Mas Fernando, como já casou comigo na condição imposta por nossos pais, nunca me olhou como mulher, mas sim como um negócio. – Eu-não-sou-um-negócio! Sou vítima de uma aposta! – Gritou, Clara, sem a preocupação de ser ouvida por Fernando e Carolina.
Mas, mal sabia ela que Serginho é que a escutava perfeitamente do lado de fora. Entretanto, quando ele finalmente tomou coragem para entrar, olhou para trás e viu a sua avó sozinha na porta de casa, sem saber como entrar. Saiu a correr ao seu encontro no mesmo momento em que ela já se ia outra vez embora.
- Vó, estou aqui. – Disse ele, mais que depressa.
- E quem és tu? – Perguntou Dominica. – Não te conheço menino. Vai para sua casa que já é tarde, anda.
Serginho era uma rapazinho muito inteligente e sensível. Aprendeu com sua mãe a cuidar e ter paciência com Dominca. Ela por vezes lembrava de quem era quem na família, mas cada dia que passa, se esquece mais e mais de coisas que seria natural não esquecer.
- Dominica, venha comigo. Sei que você mora nesta casa. – Disse Serginho com paciência de adulto para um rapaz com catorze anos de idade. – A chave está na porta e você pode entrar sem problemas.
Naquele mesmo instante chegou a sua mãe. Serginho lhe contou o que tinha passado para que ela os encontrasse na rua e ela não se importou. Segurou no braço de sua mãe e entram os três para casa. Serginho segui as duas, aliviado por sua mãe ter chegado mesmo à tempo, mas não tão aliviado com a situação que descobriu da vida de Carolina. Olhou para trás e percebeu que ela estava na janela a olhá-lo. Acenaram um para o outro e ele se deteve na porta, como não quizesse entrar. Carolina entretanto fechou lentamente a cortina e apagou a luz. Serginho compreendeu, e entrou.

jueves, 3 de julio de 2008

Notícia inesperada

Sem que ninguém percebesse, Serginho estava do lado de fora, perto da porta da cozinha, que estava entreaberta. Ele havia saído para procurar a sua avó. A senhora estava com a doença de Alzheimer e não podiam deixar nunca de prestar à devida atenção a todos os seus passos. Por vezes, até tinham que acompanhá-la ao banheiro. Durante o dia, ela tinha uma estudante que lhe dava assistência para ganhar algum dinheiro para seus estudos, mas quando se ia, o responsável tinha mesmo que ser Serginho.
Nesta noite, sua avó lhe convenceu que queria ver um pouco da noite de luar. Apesar dele afirmar que a noite era de lua minguante e que mal se via no céu por causa das nuvens, a avó insistiu tanto e falou com ele tão rispidamente que ele não teve outra alternativa. Passearam por todo o quarteirão e por causa de um gatinho bebê que estava na calçada, Serginho se distraiu por uns minutos confiado que sua avó estava sentada tranquilamente no banco do jardim a apreciar lá o que queria.
Serginho enquanto acariciava o gatinho, pensava em Carolina. Imaginou como ela ficaria contente se ele lhe oferecesse o animalzinho. E quando voltou à realidade, já não via a avó donde atinha deixado. Correu para casa para pedir ajuda à sua mãe, mas lembrou que ainda não tinha chegado do trabalho, assim que pensou na D. Amélia. Foi até lá e fatalmente terminou por ouvir o final da conversa da D. Clara...
- Não adianta tentar me impedir, mamã. Eu sei o que será melhor para esta família. Paguei a um homem para encontrar a desgraçada da mãe de Carolina e levá-la para bem longe desta cidade. Quiça do país. Eu lhes dei suficiente dinheiro, - Contou D. Clara à mãe. - Vais ver que a partir de agora, terei sossego.
- Valha-me Deus Clara, o que fizestes? - Exclamou D. Amélia levando a mão à boca.
- Não lhe vão fazer mal, mas terei que contar a Fernando que soube que ela morreu em um acidente. Assim lhe impedirei que pense um dia em procurá-la.
- Clara, por favor. No que te tornastes, minha filha? Você tem que ter confiança em si mesma. Não adianta fazer este tipo de coisas...
- Adiantará. Fernando não merece a mim nem a ela.
- O que dizes... O que fez Fernando às duas? - Disse D. Amélia, cada vez mais boquiaberta.
- Me traiu pela segunda vez com a mesma mulher, mamã.
- E o que você esperava? Ela é mãe da Carolina. Naturalmente que eles teriam um dia que se contactar. E daí?... É por isso que ele fez mal às duas? Que mal fez ele à ela além de se manter afastado por sua causa? - Perguntou insistentemente D. Amélia.
- Engravidou-a outra vez. Ela está grávida outra vez, ouviste?! Eu não suporto isso. NÃO SUPORTO!

martes, 24 de junio de 2008

A Vingança

Realmente Fernando saiu do hospital e apesar de estar em uma cadeira de rodas, foi directamente para casa de D. Amélia juntamente com Carolina. Ninguém sabia do paradeiro de Dona Clara e estavam de qualquer forma preocupados. Já tinham passados dois dias e ela não costumava desaparecer sem avisar pelo menos à sua mãe. Fernando não tinha idéia de onde ela poderia ter ido ou se tinha viajado sem avisar. Carolina, não se importou muito com o facto de sua mãe adoptiva ter desaparecido. Chegou a pensar que ela poderia nunca mais voltar se quizesse.
Mas, «Tudo o que é bom, dura pouco» pensou Carolina quando viu a sua mãe chegar em um Táxi.
- Então. Afinal já estás melhor. Ainda bem. Temos muito o que conversar. - Falou D. Clara, depois de ter entrado sem dar satisfação a ninguém. Nem mesmo à sua mãe.
- Clara, onde estavas minha filha? - Choramingou D. Amélia, com visível preocupação.
- Infelizmente não posso dizer minha mãe. Mas fique tranquila porque eu já estou aqui. Não devo ter feito muita falta. Sei que a minha presença nesta família é de pouco valor.
- Não diga isto, Clara. Todos nós gostamos muito de ti.
Nesta hora, Sr. Fernando baixou a cabeça e Carolina virou as costas para tocar distraidamente um porta retratos que estava em cima de um móvel.
- Não vês, as caras que eles fazem? Acha que me importo? Não se preocupe minha mãe. Cada um tem aquilo que merece.
- Clara, por favor, deixe de tanta amargura. Seu marido finalmente saiu do coma para estar outra vez ao seu lado. O que eles sentem é tristeza por você ter desaparecido por dois dias e ter chegado com tanto mau humor...
- Ah, ah... Não acredite nisto que afirma. Não sinto nenhum carinho destes dois. Apesar de nunca ter demonstrado a minha insatisfeção pessoal naquela casa, aqui me tens a mostrar como realmente me sinto.
- Clara, - Disse Fernando. - Vamos mudar de assunto. Ainda me sinto um pouco cansado do ambiente do hospital e queria sair desta cadeira para a cama. Dormimos aqui esta noite e amanhã vamos para casa. Lá conversaremos. - Disse Fernando já levantando da cadeira para sentar outra vez como se tivesse ficado tonto.
- Pai, - Gritou Carolina - Não deves levantar sozinho. Eu te ajudo a chegar até a cama.
Sr. Fernando foi com Carolina e Clara aproveitou para dizer a D. Amélia que o que ela foi fazer durante estes dois dias foi justamente cuidar do futuro da família. E que este futuro só poderia ser bom se a mulher que o Fernando insiste em gostar, tivesse a quilômetros de distância.
- Clara, o que você fez? - Perguntou D. Amélia assustada.
- Já saberás... Já saberás... - Respondeu D. Clara, com um sorriso cínico na cara.

domingo, 15 de junio de 2008

Primeiro dia do início de uma vida

Carolina mais que rapidamente, caiu na cama de Sr. Fernando, como se ele tivesse retornado de uma viagem muito longa, sem dar notícias. Abraçou-o a chorar e a apertar sua cabeça contra o peito do seu pai.
- Pai, pai, você acordou! - Disse ela, perdidamente feliz.
- Olá minha querida... - Balbuciou Fernando, ainda com a voz um pouco fraca. - Como estás minha filha adorada... Temos muito o que conversar... - Completou ele, olhando nos olhos de Carolina profundamente.
- Sim, pai, sim... Mas agora descanse. Não se esforce muito. Quero que você saia daqui o mais rápido possível. Temos muito para conversar e para viver...
- Que emocionante meus queridos!... - Disse D. Amélia, comovida com a conversa dos dois. - Vou chamar a minha filha, para lhe dar a notícia. Ela também vai ficar muito feliz.
Carolina, olhou para o seu pai e notou, como ele à ela, que o facto de avisar a D. Clara, não parecia tão boa idéia. Mas nenhum dos dois teve coragem de dizer a D. Amélia que por favor não a chamasse tão de imediato.
- Vovó... E se nós deixassemos que a mamãe descobrisse como nós... Ela iria ficar feliz com a surpresa. - Tentou Carolina, sem muitas esperanças.
- Não sei, do jeito que minha filha é. Acho que não gostaria de ter uma surpresa misturada ao detalhe de que nós já sabemos da notícia. É melhor eu lhe telefonar.
Dizendo isto, D. Amélia saiu do quarto, não sem antes passar a mão pelos cabelos de Sr. Fernando. "Eu já volto",- disse ela.
Carolina aproveitou estar só com o seu pai para em poucas palavras dizer a ele que viu o que lhe acontecera na noite do acidente. Sr. Fernando ficou envergonhado, mas ao mesmo tempo aliviado. Sabia que poderia contar com a discrição da sua filha e tinha plena confiança que jamais ela contaria a alguém da família. Ele lhe prometeu contar toda a história de seu nascimento e também sobre o retrato que ela encontrou.
Carolina, ainda com a cabeça sobre o peito do Sr. Fernando, sentia o bater forte do seu coração. Neste momento, ele levantou a mão e acariciou os longos cabelos da sua filha.
- Eu te prometo Carolina, que daqui por diante, as coisas serão diferentes. Eu também não aguento mais viver desta maneira. - Disse ele, agora com o olhar distante ultrapassando o vidro da janela do hospital para atingir uma única nuvem que passava no céu azul. - Eu te prometo! - Repetiu, agora olhando nos olhos de Carolina.
D. Amélia voltou e disse que não conseguiu localizar a sua filha. Telefonou para o Salão de Beleza, para a Farmácia, para Mercearia de Sr. Juvenal e até para a vizinha de Clara, mas não teve sucesso. Ninguém a viu esta manhã e tarde. D. Amélia achou estranho, mas resolveu não preocupar Fernando.
- Bom, como é que sabemos agora quando vais ter alta, meu querido?
- Na verdade, não sei... O enfermeiro esteve aqui comigo e se deu conta de que eu já tinha acordado do coma que me encontrava.... Estava acompanhado de uma enfermeira muito agradável e os dois ficaram tão felizes que pareciam que tinham algum parentesco comigo... Fiquei impressionado e feliz por não ter acordado sozinho... A princípio não sabia onde estava e eles me explicaram tudo desde o inicio... Ainda não tenho todas as lembranças no lugar, mas a pouco e pouco..., olhando as coisas e as pessoas em minha volta, como vocês..., termino por me encontrar outra vez. - Explicou Fernando, falando pausadamente.
- Não te canses, pai. - Vou ver se falo com a enfermeira do andar. Já venho.
Enquanto Carolina foi chamar a enfermeira, D. Amélia segurou a mão do Fernando e disse-lhe que estava muito contente por ele ter recuperado a saúde.
- Fernando, agora que já acordaste e o meu medo de que viesses a falecer já tenha passado, quero lhe agradecer toda a sua compreensão com a minha filha. Digo isso, para aproveitar o momento de emoção pelo qual estou passando e como nunca estou só contigo, não queria que minha filha soubesse da minha admiração pela pessoa que você é, e por toda a minha vida estarei sempre grata pelo sacrifício que você fez para manter este casamento. - Falou D. Amélia, com lágrimas nos olhos.
- Não se preocupe Amélia. Está tudo sobre controle. Acho que a Carolina já sabe que não é filha da Clara. Vou ter uma conversa com ela quando estiver fora do hospital. Não vou deixar que sua filha sofra. Tenho que encontrar uma maneira de, apesar de não ter tido uma vida fácil ao seu lado, fazer com que mais ninguém sofra por mentiras. Fique tranquila.
Neste momento entra Carolina com duas enfermeiras. Elas verificaram as máquinas que ligavam o Sr. Fernando, concluíram a sua lucidez, parabenizaram-no com satisfação e disseram que brevemente depois de umas quantas provas e exames, os médicos decidiriam a sua alta.
- Viu pai, vamos torcer para que esteja tudo realmente bem. Se pudesse, dormiria aqui hoje no hospital, mas os seguranças não deixam. Que pena. - Disse Carolina, segurando a mão do seu pai.
- Eu já me sinto bem, filha. Reze para que eu saia ainda esta semana.
- Vai sair! Vai sair! - Repetiu Carolina, com visível esperança.

domingo, 8 de junio de 2008

O inesperado aconteceu

- Olha quem vem cá... Olá Carolina. - Disse Marcelo, com um grande sorriso na cara. - Estávamos mesmo à sua espera. Temos uma grande surpresa para ti. Mas antes tens que me apresentar quem é esta amável senhora que lhe acompanha.
- É minha avó. - Respondeu Carolina, ainda intrigada com tanta alegria e descontração.
- Olá minha senhora. Eu sou Marcelo Galardo. Sou enfermeiro aqui no Hospital. Estive a acompanhar o seu filho juntamente com o Dr. Cerejeira e também com Dr. Alexandre Sanchez.
- Oh! Perdão, mas Fernando não é o meu filho. É meu genro. - Disse-lhe D. Amélia, estendendo a mão para cumprimentá-lo.
- Não faz mal. De qualquer forma, um genro é como um filho, não é mesmo? - Falou ele, descontraidamente.
Enquanto os dois falavam, Carolina admirava a beleza da namorada de Marcelo. E como se notasse, ele se apressou em apresentar ela também à sua avó.
- Esta é Ana. Minha namorada e também Enfermeira. Se precisar de alguma ajuda, pode nos pedir.
- Com certeza, Sr. Marcelo. Muito obrigada pela gentileza. E já agora, como posso ir visitar meu genro com a minha neta?
- E já ali vovó. - Disse Carolina, um pouco ansiosa para ir ver finalmente o seu pai. Vamos, - Falou arrastando D. Amélia pelo corredor.
- Adeus, Carolina. - Falou Marcelo, tentando lhe chamar atenção. Depois volte para falar comigo. Temos uma surpresa para ti.
Por incrível que pareça, Carolina já estava um bocado farta de surpresas. Parecia que seus últimos dias tinham sido cheios de pequenas e grandes surpresas e não parecia muito interessada na surpresa que o Marcelo tivesse para ela, muito menos acompanhado por sua namorada.
Abriu a porta devagarinho e viu o seu pai, dormindo. - Venha vovó. Ele pode nos ouvir. Ele não se importa com o barulho e gosta que a gente fale com ele.
- É mesmo? Tens certeza? - Perguntou D. Amélia à Carolina. E ela confirmou.
- Olá Fernando. - Disse D. Amélia, encorajada.
- Olá, Amélia...

sábado, 7 de junio de 2008

Um bater de corações

Naturalmente que Carolina ficou muito pertubada com o gesto do Alfredo. Ainda por cima ele era bonito e galante. Extrovertido e falador. Não obstante, falou toda a tarde de suas aventuras e fez todos rirem, menos ao Serginho, que se sentia como se alguém lhe tivesse tirado o chão que pisava.
- Tenho que ir, - Disse Serginho, de repente. Minha mãe falou para eu não demorar.
- Eu e minha irmã, podemos ficar um pouco mais D. Amélia. - Interrompeu Alfredo, sem se lamentar a ida de Serginho. - Nossa mãe, foi às compras e disse que quando chegasse, passava aqui para nos avisar.
Carolina, ainda agarrada à caixinha que o Serginho deu, olhou para ele com ternura e o acompanhou até a porta.
- Muito obrigada pela escultura, - Disse ela, amavelmente.
- Não precisa agradecer. Fiz com muito boa vontade e gostei das horas que passei a esculpi-la... Eu é que agradeço a inspiração que você me deu.
Carolina corou, mas Serginho também já não conseguiu olhar outra vez para ela. Disse um tímido adeus e correu para sua casa. Nem chegou a ouvir o adeus dos outros. Carolina ficou na porta a vê-lo até quando entrou na casa e fechou a porta atrás dele.
- Carolina, anda cá. Tenho uma coisa para lhe perguntar. - Gritou Alfredo, sem se dar conta da melancolia de Carolina. - Você gostaria de ir pescar connosco amanhã? - Temos uma vara de pesca a mais e queríamos que fosses também até ao rio. Há lá muitos peixes.
- Não, obrigada. - Disse Carolina, sem nem se dar ao trabalho de pensar no que seria um dia de pesca ao lado do falador Alfredo. - Não posso deixar de ir visitar o meu pai. Ele está em coma no Hospital e eu quero estar a seu lado, todo o tempo que puder.
- Ah, desculpe-me, eu não sabia... Mas, de qualquer forma, o convite fica feito e se mudar de idéia, a sua avó sabe onde moramos.
Neste momento, salva pelo congo, a campanhia tocou pesadamente. Parecia que quem tocava, tinha esquecido do dedo em cima dela. Era a mãe da Rita e do Alfredo. Agradeceu a D. Amélia o convite, agarrou na mão dos filhos e sem cumprimentar a Carolina, foi embora com eles. Ela já estava habituada a não ser notada, por isto, não se importou muito. Antes que sua avó fechasse a porta, ainda consegui ver que a cortina da janela da casa de Serginho estava em parte recorrida e parecia ter visto a cara e a mão dele atrás dela. Seu coração sorriu satisfeito.
No dia seguinte, Carolina foi ao Hospital acompanhada de D. Amélia, pois D. Clara telefonou e disse que não iria buscar a menina. Quando chegou lá, Marcelo estava com a sua namorada no corredor a conversar e pareciam muito apaixonados.

viernes, 6 de junio de 2008

Mais amigos

Serginho estava visívelmente envergonhado, mas Carolina também estava. Não se olharam muitas vezes. Evitavam propositadamente por não se conhecerem, mas D. Amélia tratou de deixá-los mais à vontade.
- Serginho, conte à minha Carolina sobre os bonequinhos de giz que você faz.
- Não é preciso D. Amélia. - Disse ele, tentando se esquivar de fazer comentários de seu hobbie preferido.
- Vá lá, não tenhas vergonha. Ela com certeza vai gostar muito.
Serginho tinha uma mochila nas suas costas. Tirou a mesma em silêncio, abriu e com sua mão por uns segundos cruciais para Carolina, tirou de lá uma caixinha. Olhou a mesma por mais uns segundos e lentamente, entregou à Carolina.
- Eu tinha trazido para ti, era para o seu aniversário. - Disse Serginho, timidamente.
Carolina olhou para a sua avó com os olhos a brilhar e a viu com as duas mãos dadas para a frente com a mesma sensação de surpresa e satisfação que tinha ela. Abriu a caixinha de madeira e lá dentro, em cima de um trapinho de veludo vermelho, havia uma escultura em giz. Era uma silhueta de menina com cabelos compridos, saia e um livro nas mãos na parte de trás das costas.
- Fiz pensando como você seria, de acordo com a descrição da D. Amélia. E este livro é o seu diário. Este que ganhou hoje. - Explicou Serginho, rapidamente.
- Oh... Que bonito Serginho. A mim, encantou. - Falou D. Amélia, emocionada.
- É muito bonita, mas eu não sou assim tão bonita como a escultura... - Disse Carolina, envergonhada e agradecida.
- É, pois...
Naquele momento bateram à porta e D. Amélia foi ver quem era. Não tardou muito e voltou com outros dois vizinhos. Rita e Alfredo.
- Carolina, a sua festa já está começando a se compor. Estes também são meus vizinhos. Convidei-os para virem lanchar contigo e para conhecer-los. Saõ novos moradores e ainda não conhecem ninguém, daí aproveitei o dia para virem até aqui.
- Olá... Toma. Este é seu presente de aniversário. - Falou Rita, entregando à Carolina uma fita vermelha para ela colocar no cabelo. - Eu ganhei uma de cada cor, mas acho que você fica bem com ela. Já tenho outra vermelha, esta não vai me fazer falta, e eu não tenho dinheiro para lhe comprar outra coisa.
- Oh, é linda. Obrigada. - Falou Carolina, ainda agarrada à caixinha da escultura de giz.
- Eu não trouxe nada, mas acho que a minha presença já é suficiente. - Disse Alfredo, se encurvando e beijando a parte de cima da mão vazia de Carolina.
D. Amélia ficou contente com os convites que fez e não deixou de notar a carinha de insatisfação do Serginho quando viu o gesto de Alfredo para Carolina. Deu um sorriso delicado e foi buscar o bolo.

jueves, 5 de junio de 2008

Os mágicos dias da minha vida

Carolina saiu do Hospital sem uma resposta ou reacção do seu pai, mas ainda sentia a pressão da mão dele sobre a sua. Não conseguiu ver o enfermeiro Marcelo, nem sua mãe deixou que ela fosse ver os meninos da oncologia. Foi durante todo o caminho, a olhar as ruas, as pessoas, e reparou a quantidade de gente que andava de mãos dadas à outra. Via a alegria e a cumplicidade na cara de cada um, e lembrou-se dela com pena. Não lembrava de ter tido um amigo, e sequer tinha algum na sua escola. Sabia que era uma menina muito tímida e fechada, mas nunca, nenhum dos rapazes ou raparigas se aproximou dela para fazer algum tipo de conversa, que não fosse dentro da sala de aula, e por motivos lógicos.
D. Clara, por ser aniversário de Carolina, deixou-a passar todo o dia na casa da sua avó e disse, por milagre, que não precisava ir à Escola. Levou-a até o Hospital para ver Sr. Fernando e a deixou outra vez na casa da avó.
D. Amélia, era uma mulher adorável. Não sabia da falta de carinho que sua filha dava a Carolina. Imaginava, que Carolina, era a criança mais feliz do mundo. Comprou-lhe um diário com capa de veludo verde escuro, com umas florzinhas douradas pintadas a um canto direito. Por cima, com letras pequenas e delicadas, estava escrito: "Os mágicos dias da minha vida".
Carolina recebeu este presentinho da sua avó, assim que a sua mãe arrancou com o carro em alta velocidade. Alegava que tinha muita pressa e que não podia estar com Carolina.
- Gostou, minha linda? - Perguntou sua avó, amavelmente. - Foi eu mesma que forrei e pintei as flores. A frase, foi escrita por Serginho. É um rapaz da sua idade que mora aqui ao lado. Sabes que sua avó não sabe escrever... Mostrei ao Serginho o presentinho que estava fazendo para seu aniversário e ele disse que se você era tão especial quanto eu lhe dizia, que então, merecia também uma frase especial. Daí escreveu isto. - Gosta?, - insistiu ela, preocupada.
- Muito avó. Muito mesmo. - Disse Carolina, emocionada.
Neste momento, ouviram um barulho por detrás da porta. Olharam surpresas e viram que estava um rapazinho assustado a olhar para elas.
- Desculpe D. Amélia. Eu estava aqui desde o início. Vocês não me viram entrar, porque a porta estava aberta. Tinha curiosidade de saber se sua neta tinha gostado do presente. E trouxe outra coisa, caso ela não ficasse satisfeita por eu ter escrito no livro que a senhora fez...
- Olá... - Disse Carolina, timidamente. - Eu gostei do que escreveste...
- Olá Serginho, esta a minha neta Carolina, como já sabes... - Disse D. Amélia, a sorrir da maneira que o Serginho encontrou para conhecer Carolina. - Entre, entre, não fique aí atrás da porta. Vamos comer um bolo que eu fiz para Carolina. Os dois se olharam envergonhados e seguiram D. Amélia até a cozinha, com um afastamento de dois metros um do outro.

viernes, 30 de mayo de 2008

Um desejo de aniversário

Durante um mês Carolina conversou com seu pai sempre que pôde. O médico disse que ele estava evoluindo por razões que ela não sabia explicar, mas soube que os seus índices de vitalidade estavam dentro da média. Só lhe faltava abrir os olhos e falar, pois não seria muito bom que seu estado de coma durasse muito tempo, para que ao acordar ele não ficasse com nenhuma sequela.
Carolina já estava mais tranquila por saber que a saúde de seu pai pelo menos se mantinha. Um dia no Hospital, D. Clara a deixou sózinha por mais tempo com S. Fernando. Era o dia do seu aniversário. Fazia 13 anos. Falou com seu pai que tinha muita saudade dele e que como completava esta idade, ela é que tinha trazido um presente para ele. Dentro do seu bolsinho do vestido, Carolina trazia a fotografia da sua mãe. Ainda não tinha plena certeza, mas quanto mais via a fotografia, mais desejava que aquela senhora fosse realmente sua mãezinha...
- Pai... - Disse Carolina.- Trouxe a fotografia que lhe tirei da gaveta. Assim podemos, os três, comemorar o meu aniversário.
Carolina segurou a mão do seu pai e colocou o dedo indicador dele a acariciar o rosto da fotografia. Apesar de Sr. Fernando não colaborar com o gesto e deixar que seus dedos fossem guiados pela mãozinha da Carolina, ela viu que de seus olhos mais uma vez, escorria uma lágrima. Notou que suas cores mudaram como se ele estivesse nitidamente emocionado.
- Eu sei que não podes falar comigo, mas hoje o maior presente que podia receber, era que o senhor finalmente acordasse. E completava a minha alegria se me desse a certeza de que esta senhora era minha mãe... E mais, se Deus existe, - Continuou Carolina, com a mão no peito, como se estivesse a fazer um pedido a Ele.- queria saber onde a poderia encontrar...
Depois de ter falado em voz alta, deixou-se divagar em seus pensamentos, como se estivesse a imaginar este dia. Ficou durante uns segundos com a sua mão, a mão do Sr. Fernando e o retrato da sua mãe, agarrados a um passado que nenhum dos três saberia contar ao certo, pois nunca tiveram oportunidade de aproveitar.
Neste momento, como por milagre, Carolina sentiu que a mão de S. Fernando apertou levemente a sua. Pensava que tinha sonhado, quando de repente ele repetiu o gesto, mas desta vez, mais forte. Tanto que Carolina teve que tirar a foto para não a machucar. Voltou a colocar dentro do seu bolso e olhou para ele. - Pai, pai, pai... Disse ela tentando acordá-lo. - Estás a me ouvir? - Continuou. - Acorde pai. Vamos procurar mamãe. Vamos viver os três juntos e ser feliz. Por favor pai, já não aguento viver assim. Faço hoje 13 anos e não lembro nunca de ter sido feliz. Por favor, pai, me ajude...

lunes, 26 de mayo de 2008

Duas satisfações

Por uns instantes, Carolina pensou que não tinha compreendido bem o que Marcelo havia dito. Mas não arriscou perguntar outra vez. Percebeu o motivo da tristeza que transparecia no rosto dele e tentou lhe confortar com palavras de confiança. Apesar da sua idade... Por vezes as crianças nos surpreendem.
- Olha, não fique triste não, viu? Acho que Arnaldinho já esperava que isso fosse acontecer. Ele se sentia muito bem com vocês e com a condição de vida que lhe foi imposta e quando falei com ele, parecia que só queria ser feliz em todos os momentos que pudesse...
- Eu sei, Carolina. Eu sei. - Falou Marcelo, interrompendo-a. - Apesar desse trabalho ser infelizmente rotineiro e perder muitas crianças ao longo do ano, creio que jamais me conformarei com o destino.
Carolina não se atreveu a contestar o desabafo de Marcelo. Deixou que ele próprio se auto relaxasse e aceitasse com o tempo. Ela, mesmo não tendo conhecido Arnaldinho como pretendia, e dentro da sua insatisfação pessoal, até pensou em estar no lugar do pequeno. Mas não deixou transparecer, nem falou nada para Marcelo. Não pretendia lhe agitar ainda mais a sua alma sofrida.
Quando eles chegaram no andar do pai de Carolina, D. Clara já estava lá. Não teve nenhuma reação negativa, e agradeceu a Marcelo pela boa vontade.
- Não precisa agradecer, minha senhora. Carolina é muito boa companhia. Gosto muito dela.
Carolina ouviu a voz dele dentro do seu coração como uma flecha que entra em câmara lenta e espeta levemente no sentimento sentado a dormir. Olhou para ele com ternura e o viu acenar com a mão, um até logo breve, em que Carolina notou uma mistura de alegria e tristeza.
Ela sabia que era muito jovem para amá-lo como uma mulher ama um homem. Tinha apenas doze anos e ele vinte e dois. Ainda por cima, tinha uma namorada que era encantadora. Carolina, na verdade, não estava apaixonada pelo homem, mas sim pelo amigo que ele parecia ser, pela carência afectiva que ela sofria e pela necessidade de falar com alguém que "realmente gostasse dela".
- Vamos! - Disse D. Clara, secamente.
Antes que pudessem sair do corredor, o Médico substituto de Sr. Fernando a chamou e estava um pouco agitado.
- Minha senhora, por acaso é a senhora a esposa do Sr. Fernando Pignar? - Perguntou ele, como se tivesse uma boa notícia para dar, pois seus olhos brilhavam.
- Sim. Por acaso sou. - Respondeu D. Clara, sem notar nada de extraordinário na voz do Médico.
- Muito prazer. Eu sou Alexandre Sanchez, o Médico de plantão desta noite. Queria apenas que soubesses que a Enfermeira-chefe me comunicou que depois que sua filha saiu do quarto do paciente, caíram pelo menos duas grandes lágrimas de seus olhos. Apesar do seu estado de coma, podemos afirmar que, se a menina falou com ele algo, com certeza lhe deve ter emocionado. E esta reacção é muito positiva.
- É mesmo? - Perguntou D. Clara, tentando fazer um ar feliz. - Que bom. Vamos ver se melhora então. Logo mais à noite venho fazer-lhe um pouco de companhia.
- Eu também venho contigo, mãe. - Falou Carolina, muito emocionada.
- Você ficará com a sua avó Carolina. - Disse D. Clara, se despedindo ao mesmo tempo do Dr. Alexandre.
Carolina compreendeu que não deveria ser permitido crianças durante a noite. E era possível que D. Clara dormisse ali aquela noite. Foi durante todo o caminho com duas satisfações no peito. Uma era por ter passado aqueles momentos com o enfermeiro Marcelo e a outra era por saber que poderia conversar com seu pai. Pois ele a ouvia.

domingo, 25 de mayo de 2008

Segunda perda

Carolina foi procurar D. Clara, mas não a encontrou. Andou corredor acima, corredor abaixo e não conseguiu ver onde estava a sua mãe. Arriscou-se descer as escadas, pois tinha medo de ir sozinha no elevador. Olhou para um lado, olhou para o outro, e nada. Nem sinal da sua mãe. Resolveu voltar para o mesmo andar do seu pai. Pelo menos assim, tinha certeza que não se perderia.
Quando virou o seu corpo para voltar a subir as escadas, ouviu alguém chamar-lhe pelo nome. "Carolina!". Ela olhou curiosa. Podia ser uma coincidencia, pois a voz era de um homem. Ouviu outra vez, mas com a certeza de que quem a chamava estava mais perto e do lado contrário ao que olhava. Era Marcelo Galardo, o enfermeiro.
- Olá, Carolina. O que fazes aqui sozinha? O seu pai não está no segundo andar? - Disse ele, preocupado - Onde está sua mãe? - Perguntou.
- Na verdade não sei. Estava com o meu pai e ela disse que eu não demorasse. Quando voltei, já não a encontrei onde me disse que estaria. - Disse Carolina, um pouco pertubada por estar outra vez com Marcelo. Olhava profundamente nos olhos dele, numa mistura de amizade e amor. Estava perfeitamente confortável em estar ao seu lado. Por algum motivo, confiava plenamente nele. Achava que lhe inspirava estabilidade e carinho. Aproveitou para lhe segurar na mão e pedir que lhe ajudasse a encontrar a sua mãe.
Marcelo, ficou muito emocionado com o pedido e a confiança de Carolina. Consentiu que apesar de estar a caminho do necrotério, podia perfeitamente acompanhar Carolina para ajudá-la a conseguir alguma informação da sua mãe.
- Olá Carmencita, você por acaso viu a mãe desta menina? Ela é a filha do senhor que está em coma no 218. Estiveram as duas aqui neste momento a visitá-lo, mas Carolina não consegue encontrar sua mãe. - Perguntou ele, à sua colega enfermeira.
- Sim, claro. - Respondeu ela. - Disse-me que ia tomar um café no Refeitório enquanto a menina estava com o pai. Tens que ir ver se ainda lá está, ou esperar aqui mesmo.
- Vamos ver se lá está. - Disse Carolina apressada, usando o motivo para estar mais tempo com as mãos dadas a Marcelo.
- Sim, vamos até lá. Mas por favor, se ela retornar, diga-lhe que Carolina está comigo e eu já a trago de volta se não a encontrar na Cafetaria.
Carolina estava mais feliz do que no dia que dia que ganhou seu carrossel. Estava com Marcelo. Era o seu amigo. E sabia que podia acompanhá-lo para todo lado que ele fosse.
- Como estão os meninos da festa? - Perguntou Carolina, já descontraída pelos frios corredores do Hospital.
- Estão como Deus manda, Carolina. Gostamos muito de estar com eles. Fazemos os possíveis para que todos os momentos de cada um, sejam os melhores de suas vidas. Não é fácil ser feliz nestas condições de saúde...
Carolina notou que Marcelo mudou de ânimo com o assunto.
- E você fica muito triste com isso, não?
- Sim, fico muito triste. - Disse ele, suspirando. E calando-se.
Fez-se um silêncio muito grande que incomodou Carolina. Entraram no elevador, saíram, viraram por um corredor que parecia um "U" e entraram na Cafetaria. Olharam os dois para todos os lados, e não viram sinal de D. Clara. Marcelo, disse simplesmente que ela não estava ali e que iria lhe colocar no andar que estava antes. Voltou outra vez pelo mesmo caminho, sempre em silêncio.
O coração de Carolina já palpitava de tanta ansiedade. Arriscou fazer uma pergunta.
- Como está Arnaldinho?...
- Arnaldinho, Carolina... Faleceu esta manhã.

viernes, 23 de mayo de 2008

Um momento de emoção

D. Clara levou Carolina ao Hospital um pouco a contragosto, pois não se sentia mais aliviada por ter tido aquela conversa com ela. Mas, ao contrário do que se esperava, passou toda a manhã a pensar na sua própria vida. Tentava organizar mentalmente o que faria depois da morte do seu marido e não tinha decidido ainda se incluiría Carolina. Pensava que na verdade, ela não era uma criança difícil, mas não conseguia aceitá-la por ser ela a filha de um relacionamento extra-conjugal. Assim, cada vez que a imagem da mãe de Carolina vinha à sua cabeça, seu humor e sensatez iam definitivamente embora. E seu descontrole, atingia fatalmente à Carolina.
- Espere-me aqui. Vou falar com Enfermeira e ver se Fernando já pode receber visitas. - Disse D. Clara, com alguma paciência para Carolina.
Ela consentiu abaixando a cabeça e procurando um lugar para sentar. Estava no hall de entrada dos corredores dos quartos de tratamentos. Viu vezes sem conta, o passar de auxiliares, enfermeiras e médicos que subiam e desciam pelos elevadores. Também viu, infelizmente, uma maca a passar com um corpo coberto até a cabeça, saindo provavelmente da sala de UTI. Não pensou que fosse o seu pai, pois o tamanho era muito menor que o dele. Seu Fernando era alto e bonito, lembrava Carolina com saudades, dando um suspiro, tanto pela suposta morte do paciente, como pelo lamento da situação do seu pai.
Esperou pelo menos quinze minutos até que veio D. Clara lhe chamar.
- Seu pai está no quarto 218 em observação. Não mexa em nada. Ele está dormindo, portanto não pode lhe ouvir. Vou falar com o médico enquanto você vai vê-lo. Não demore lá dentro. Venha se encontrar comigo aqui neste mesmo local.
Carolina já estava acostumada a ser mandada por D. Clara, para aqui e para ali, e raramente ela lhe acompanhava. Apesar de esta atitude lhe forçar a ser independente, houve ocasiões em que ela necessitava de apoio e não teve. Carolina entretanto, entrou no corredor com o coração aos saltos. Estava tão feliz de ver o seu pai, que não se importava dele estar dormindo.
Entrou e o viu ligado às máquinas. O som da máquina de medir os batimentos cardíacos era tranquilizador. Parecia o som de um coração metálico. Pi... pi... pi... pi... pi...
Aproximou-se da cama e segurou na mão do seu pai. Olhou-o com carinho e deixou uma lágrima cair dos seus olhos. Com aquele toque de mãos, Carolina sentiu que há muito tempo não lhe segurava assim. Sentiu a força que tinha o seu pai, ao ver que tinha ele uma mão grande e rígida, ao contrário das dela que eram pequenas e muito macias. Ficou um tempo a admirar as duas mãos.
Carolina, sem saber porque, começou a conversar com seu pai, esquecendo que ele não a podia ouvir.
- Sabe pai, eu tenho uma coisa para lhe confessar. - Disse Carolina, com a cabeça baixa e os olhos mirando a mão, veias e unhas dele. - Um dia eu fui ao seu quarto e na sua ausência remexi na gaveta do seu lado da cama. Já não me lembro o que buscava, mas talvez tenha sido levada por uma vontade de descobrir porque eu não sentia que minha mãe não era mesmo a minha mãe. Procurava um segredo e encontrei um retrato. Não sei se deu por falta dele, pois nunca me questionaste sobre isto. Quero lhe dizer que apesar de não saber quem é, ainda o tenho comigo. Agora que estás nesta cama, penso que não valerá a pena devolver. Vou ficar com a fotografia e só a devolvo se você mesmo me pedir. É pena que não podes falar comigo e dizer-me quem é aquela senhora, mas confesso que gostaria de pensar que ela é a minha mãezinha verdadeira...
Carolina foi interrompida pela Enfermeira.
- Desculpe-me minha querida, mas temos que fazer um exame no paciente. Pode dar um beijinho nele se quiser, volto em um instante, mas aconselho que vá ao encontro da sua mãe. Ela lhe espera.
- Sim senhora. - Respondeu amavelmente Carolina.
Então soltou delicadamente a mão do seu pai e colocou seus pezinhos em pontas para acançar o seu rosto, quando percebeu que havia uma lágrima a lhe escorrer no canto dos olhos. Abriu os olhos de espanto e lhe enxugou a lágrima.
Quando a enfermeira retornou, Carolina perguntou se era possível que ele a tivesse ouvido falar com ele e a enfermeira confirmou. Disse que normalmente as pessoas em estado de coma, costumam ouvir as conversar que se passa em sua volta. Assim contam algum, quando saem deste estado e retornam à vida normal.
Carolina aproveitou para beijar outra vez o seu pai e dizer a ele que voltava no dia seguinte. E ainda mais feliz ficou por ver que ele se emocionou com o que ela falara. Será que estava feliz em saber que Carolina afinal já estava perto da verdade?

martes, 20 de mayo de 2008

O dia seguinte

Assim dormiu Carolina, assim despertou Carolina. Pensando e sonhando com a sua mãe. Levantou-se e viu que não tinha trocado a roupa do pijama, mas não se importou. Tomou um banho, e fez a higiene bucal. Olhou-se no espelho e não viu mais o seu sorriso inocente de quem espera por um dia magnífico. Viu seus olhos meio inchados do sono e das lágrimas. Sentiu pena de si mesmo. Pobre criança. Queria eu ter sido mais amigo e mais chegado a ela para que não sofresse tanto... Podia contar histórias de crianças que sofriam mais que ela e que não tem como comer ou estudar e outras coisas mais. Entretanto, penso que Carolina não me ia ouvir. Cada criança sofre o pedacinho da sua vida de acordo com o que sente e não com que o resto do mundo está a passar. Sei que quando adulto pensamos mais naquilo que se passa no resto do mundo, mas Carolina naquele momento, só queria pensar em sua mãe. E sei que não me ouviria...
Carolina, trocou-se, desceu preparada para ir à Escola, apesar de não ter nenhuma vontade. Pensava no seu pai e a cada minuto que suspirava, tentava fazer força para que acordasse outra vez e concluísse que afinal a sua vida toda até aquela hora tinha sido um longo pesadelo. Mas como sempre, os seus desejos são quebrados por um som que lhe desencanta de qualquer pensamento que lhe possa aliviar, Dona Clara lhe chamou estridentemente.
- Carolina, está na hora de levantar. Não pense que vai inventar alguma coisa para não ir à Escola.
- Já estou aqui. Não ia inventar nada. - Disse, Carolina falando em um tom mais baixo que D. Clara e aparecendo de repente à frente dela.
- Que susto! Estás maluca. Como é que vem assim de mansinho, sem dizer nada e falando já ao meu lado?! Nunca mais faça isso, ouviu? - Disse D. Clara, com uma mão no coração e a outra segurando no braço de Carolina. - Sente-se já para comer, completou.
Carolina comeu em silêncio. Parecia que a vida lhe arrastava como se ela não quizesse ser levada para lado nenhum. De repente, lembrou-se das crianças do Hospital e do Enfermeiro que era seu amigo. Talvez o Marcelo a pudesse ajudar.
Pensou e respirou ofegante, comendo mais depressa. Estava desejosa de que a manhã passasse para ir ao Hospital ver seu pai e encontrar o seu amigo.

Notícia

Como o Blogger só me permite avisar a apenas 10 dos meus contactos para a notícia de mais um capítulo da "Novela quase verídica", esta mensagem se chegou a ti, é porque o mantive como leitor, se é uma mensagem nova, é porque o escolhi a dedo e com motivos.

viernes, 16 de mayo de 2008

A mãe

(Para quem já leu uma vez esta Folha 12, aconselho ler outra vez, pois modifiquei algumas frases e completei a mesma como prometi)

Já em seu quarto, Carolina não foi atirar-se para a cama como era suposto. Incrivelmente, abriu a gaveta da sua escrivaninha e tirou de lá uma fotografia que por sua vez, tinha um dia tirado da gaveta do seu pai. Sr. Fernando nunca tinha falado nada sobre o assunto, e ela sempre esperou que ele desse pela falta do retrato. Agora já sabe porque o pobre homem nunca falou nada. "Seria a foto daquela mulher, a sua mãe?". Pensou Carolina.
Segurou delicadamente na fotografia meio gasta e com algumas vincos já craquelados do papel. Levou até a sua cama, com passinhos pequenos e silenciosos. Não tinha pressa para chegar e admirava com carinho o rosto da senhora. Tinha cabelo curtos e ondulações bem feitas e bem marcadas. Negros, como não são os de Carolina. Mas agora ela via, que realmente D. Clara tinha razão. A sua cara era exactamente igual a daquela mulher... Seu coração acelerou. E parecia que os olhos que a miravam da fotografia, penetrava directamente nos seus e lhe atingia como um raio.
E pior do que ter a fotografia e a revelação, foi a lembrança do dia anterior.
Como um flash back, Carolina viu a imagem daquela mulher que tinha uma mancha roxa no queixo... Sua mente lhe transmitiu um calafrio na espinha e antes que chegasse a sentar na cama, flexionou o joelho em um impulso contrário. "Seria ela a sua mãe? Meu Deus!!", assustou-se Carolina, com o que tinha pensado. Ficou apavorada e seu coração já não queria aguentar no peito. Pulava tanto que quase se ouvia sem auscutar. Pum bum, pum bum, pum bum...
Ela tinha que encontrar uma maneira de encontrar sua mãe outra vez. Tinha que ter certeza se era ela que a estava a olhar da esquina. E se levava uma criança ao colo... As perguntas e as dúvidas saltavam de um lado para o outro em sua cabeça e por um segundo lhe pareceu que iria desmaiar. Sentou-se e recostou lentamente as costas na cama.
- Tenho que encontrar a minha mãe... - Murmurou.
A princípio daquela noite, Carolina não conseguiu dormir. Mas em uma espécie de sonho acordado, viu-se a encontrar com a sua mãe em uma sala de apoio social. Imaginava que aquela mulher que viu na cidade tivesse problemas financeiros, pois estava pobremente vestida e trazia um bebê ao colo. Aquela mancha no rosto, poderia ter sido de alguma violência feita por seu companheiro, ou melhor, preferia pensar que a senhora tivesse caído e batido o queixo no chão. "Oxalá...", pensou Carolina, tentando não pensar em muitos sofrimentos que ela pudesse ter tido, visto que esperava que fosse realmente a sua mãe.
Viu-se na sala e mentalizou o encontro das duas como um filme de amor. Abraçou-a como se tivessem saudades uma da outra e tamanho foi o esforço mental, que um lágrima lhe escorreu do canto do olho e entrou no seu ouvido. Carolina não se importou com incômodo da água salgada que lhe entrava pelo orifício. Sentia que esta lágrima lhe ligava às lembranças de uma mãe que nunca teve. Assim, deixou que esta lágrima fosse uma mensagem que lhe chegava aos ouvidos.
Carolina assim dormiu. Com uma lágrima a acalentar como uns braços de mãe.

jueves, 15 de mayo de 2008

Revelação

Carolina, já pálida, escutou D. Clara que olhava profundamente para os seus olhos.
- Você não é minha filha verdadeira. Já deve ter notado. Nunca gostei de ti Carolina e não pretendo gostar ou estar com você nesta casa, caso seu pai morra. Sempre soube que seu pai não gostava de mim. Mas o meu pai, fez um trato com o seu avô e eu tive que te aceitar para criar como se fosse minha filha. - Disse D. Clara, sem pestanejar. - Não gosto da maneira como me olhas e não gosto da sua cara. Você se parece com a sua mãe biológica e eu não a suporto. Por isto que estou a lhe falar, e mais uma vez repito, se seu pai vier a falecer, você irá para a casa de sua avó. Minha mãe, não sei porque cargas d'água, gosta de ti e não a quer deixar ir para longe dela.
- Mas, mas... - Gaguejou Carolina.
- Cale-se. Não me interrompa. - Vociferou D. Clara. - Eu não terminei. Não adianta vir com a idéia que quer conhecer a sua mãe ou que era melhor se voltasse para ela. Isto jamais vai acontecer. Nem por cima do meu cadáver. Aquela mulher não merece nada que eu lhe ofereça. E não vou discutir este assunto com você. Tens dez anos de idade e até completar alguma coisa que se pareça com maturidade, vais obedecer a quem eu mandar.
Carolina não acreditava em tantas palavras arrogantes e rudes. Queria fugir dali aos prantos e atirar-se em sua cama. Mas tinha tanto medo de D. Clara que não se atreveu sequer a chorar. Como disse ela, não queria ver nenhuma lágrima a saltar dos olhos.
"Que mal eu fiz, para merecer isto..." Pensou Carolina, a chorar por dentro da sua alma.
- Amanhã vai comigo ao Hospital e não quero que faça cara de tristeza, do contrário jamais voltará a ver o seu querido pai.
Carolina acenou com a cabeça e sem tirar o olhar da D. Clara, com coragem perguntou:
- Posso ir agora?
- Não. Pode dizer o que quer falar, pois não vou mais voltar a este assunto.
- Eu não tenho nada o que dizer. Amanhã vamos ver o pai e quando ele falecer, mudo-me para a casa da avó Mamela. - Disse Carolina, tentando mostrar frieza nos seus sentimentos e tratando a avó Amélia pelo nome carinhoso. - Posso ir deitar agora?
- Sem comer? - Perguntou D. Clara, satisfeita por Carolina ter obedecido e não ter feito nenhum teatro infantil.
- Não tenho fome. Comi um pedaço de bolo no Hospital com os meninos. - Disse ela, mentindo.
- Pois bem. Suba então.
E lá foi Carolina. Devagar, mas com passos firmes. Sentia-se como se tivesse crescido mais cinco anos. Sua cabeça dava milhões de voltas, mas havia uma coisa que lhe deixava completamente feliz: A sua mãe, não era D. Clara!

miércoles, 14 de mayo de 2008

Uma notícia inesperada

Carolina saiu calada do quarto e caminhou todos os corredores até a saída do Hospital, também sem dizer uma palavra. Nem mesmo tinha vontade de perguntar nada sobre o seu pai. Estava angustiada demais por pensar no acto que a sua mãe tinha provocado e em realidade, só as duas sabiam.
D. Clara, ia pensativa enquanto conduzia e também não tinha intenção de dizer nenhuma palavra para Carolina. Era como se estivesse em outro mundo, no qual a Carolina não existia. Talvez fosse isto mesmo que ela estivesse a pensar naquele momento... "Se esta criança não tivesse nascido, agora me livrava de uma vez por todos dos dois...". Imaginou, Carolina.
- Amanhã, só irás comigo ver o seu pai, se te comportares como uma pessoa adulta. Não quero ouvir nem um barulho na casa. Tenho dores de cabeça e tenho muito o que pensar. De preferência, desejo que pareças que não estás lá. - Falou D. Clara, sem tirar os olhos da estrada.
- Não se preocupe, mãe. Não a incomodarei. - Respondeu Carolina, disfarçando sua voz, para parecer meiga. - Eu lhe prometo que não vais ser incomodada. Nem pelo meu coelhinho...
- Este pode jogar para a estrada outra vez, ou faça o que quiser, só não o quero ver de novo. Foi ele que provocou tudo isso. - Disse D. Clara, tentando convencer Carolina de que foi o animalzinho que provocou o acidente do seu pai.
Carolina, ficou vermelha de raiva e de agonia. Tinha vontade de dizer aos gritos tudo o que tinha visto a mãe fazer, mas, mais uma vez, não teve coragem. E sabia que nunca iria ter nenhuma oportunidade de dizer a verdade a ninguém. Não tinha amigos e não tinha idade que lhe valesse a importância de acreditarem em uma afirmação tão delicada e perigosa. Calou-se e limitou-se a abaixar a cabeça.
Quando chegou à casa. Foi directamente a casa das ferramentas do pai ver o coelhinho. Ele já lá não estava. O animal, parecendo que já sabia da sua má sorte e rejeição familiar, deu ele próprio rumo a sua vida. - Menos mal. - Pensou, Carolina, com muita tristeza por ter perdido um suposto amiguinho. - Menos, mal... - Repetiu.
Ia devagar para o seu quarto, já pensando no que tinha prometido à mãe. Mas D. Clara lhe chamou, assim que a sentiu entrar e fechar a porta.
- Venha cá, Carolina. Tenho uma coisa para lhe contar. Sente-se e não fale nada até eu acabar de dizer tudo.. Não quero ser interrompida. Há muito tempo que quero ter esta conversa contigo. Agora acho que já é hora de que saibas de algumas coisas....- Disse D. Clara, com seu ar gelado e olhar de peixe morto.
Carolina sentou-se na poltrona individual com as duas mãos juntas em cima do colo e os pés também juntos em cima do tapete, aproveitando para juntar da mesma forma os joelhos, forçando um ao outro para que não mostrasse seu tremor.
- Preste muita atenção ao que eu vou lhe dizer, Carolina... E quando acabar, não quero choros nem lágrimas, pois já sei exactamente o que eu tenho que fazer... Só lhe quero comunicar.
Quanto mais D. Clara falava, sem realmente começar o assunto, mais Carolina tremia. Seu coração já batia na veia lateral do pescoço e as lágrimas já queriam saltar dos olhos, antes mesmo de saber o que seria.
- Pois bem, menina...

martes, 13 de mayo de 2008

Despedida

Aquele sorriso de Marcos e o seu olhar, deixou Carolina desconcertada e pesarosa. Ela sabia que tinha um sentimento de carência muito grande e também sabia que ele só devia ter olhado carinhosamente para ela porque com certeza fazia parte do seu trabalho. Por uns instantes pensou no Marcos como seu príncipe encantado e antes que pudesse sonhar algo mais na sua imaginação, foi tomada de assalto por um menino que a tomou pelos braços e a convidou para sentar em uma das camas com eles. Todos queriam ver o carrossel a funcionar.
Enquanto a musiquinha ia e vinha várias vezes, Carolina voltou a pensar no seu pai. Não sabia se ele iria conseguir viver e ela experimentava de vez em quando um espécie de tremor interior quando pensava em viver sozinha com a sua mãe. Dizia ao seu coração que se isso viesse a acontecer, que ela fugiria de casa.
- Carolina, é seu nome, não é mesmo? - Perguntou o menino que a tinha convidado para sentar.
- Sou, e você? - Respondeu perguntado ela ao menino. Sem se importar por ter saído dos seus pensamentos de revolta.
- Eu me chamo Arnaldinho.
- Arnaldinho? - Deve ser diminutivo de Arnaldo...
- É. Mas eu gosto que me chamem de Arnaldinho. Me sinto mais pequeno e aí me tratam com mais carinho.
Carolina riu-se.
- Pena que o meu nome é muito esquisito para colocar no diminutivo. Já pensou se me chamassem de "Carolininha"? Que horror.
- É mesmo. - Disse ele, rindo. Mas podemos te chamar de "Carol".
- Gente, ela agora se chama "Carol" para os amigos!
- Eeeeeeeeeee. Gritaram todos. Carol! Carol! Carol!
Carolina se pôs a rir com eles e terminou por se embolar na cama com os balões, pois todos vieram lhe abraçar ao mesmo tempo a lhe fazerem corségas.
Carolina estava feliz. Naquele momento, entre crianças, brinquedos, alegria e bondades, ela não se lembrava de suas histórias tristes de vida. Mas como não podia deixar de ser...
- Vamos! - Falou uma voz de mulher que estava estática parada na porta do quarto. Era sua mãe. Disse um "Olá" seco para todos e extendeu a mão dizendo. - Vim buscar Carolina Pignar. Disse ela, sabendo que Carolina detestava que lhe chamassem pelo nome todo.
- Muito bem, disse a enfermeira-boneca. Mas antes ela tem que prometer que cada vez que vier ao Hospital que venha também para nos ver. Ela já fez muitos amigos e eles gostaram muito dela. Não foi pessoal?
- Carol! Carol! Carol!. Responderam em coro.
- Pode ser. Amanhã estarei aqui, mas não sei se ela virá. Mas vou pensar. Logo se vê...
Carolina sabia que sua mãe fazia sempre isso para que ela soubesse de ante-mão que tudo dependia dela. De que seu comportamento em casa deveria ser excelente de forma que sua mãe não se aborecesse com nada.
Olhou para trás antes de sair do quarto e deu um adeusinho com a mão próxima ao peito e disse-lhes:
- Até amanhã!

domingo, 11 de mayo de 2008

Uma pausa para corecções...

Bom,

Caminhei até aqui e já tive algumas críticas muito construtivas.
Vou fazer uma primeira revisão a respeito das confusões de singular e plural e outras gafes mais que tenha, mas é mesmo importante que vocês notem, pois eu estou escrevendo directamente para o Blog, e as idéias surgem como flecha.
Preciso de apenas dois dias para fazer esta leitura com correcções. Ainda pretendo mudar a primeira folha... Por algum motivo, há qualquer coisa naquele iníco que eu não gosto...

Beijosssssss

sábado, 10 de mayo de 2008

Uma surpresa.

Carolina respondeu um "olá" baixinho e inibido. E o enfermeiro vestido de palhaço, abriu uma grande boca e disse outra vez:
- Olaaaaaaaaa.
E todos os meninos gritaram a riram-se... "Olaaaaaaaaa", como ele.
Carolina começou a rir também. - Afinal, eram todos uns grandes palhaços, - Pensou. A seguir veio a enfermeira vestida de boneca junto dela e abriu um saco. Pediu que colocasse a mão lá dentro e tirasse o que encontrasse. Carolina aceitou o desafio, pois estavam todos a olhar para ela em silêncio, mas sempre com um grande sorriso na cara. Ela não fazia ideia do que poderia encontrar lá. Mas arriscou e mergulhou a mãozinha até o cotovelo. O saco era muito fundo e vermelho. Por uns intantes ela pensou que podia ter um bicho lá dentro. Mas como se tratava de um Hospital, descartou esta idéia. Continuou a aprofundar mais seus dedinhos e finalmente tocou em um objecto de madeira. Não entendia muito o que definia aquilo que tocava. Parecia que tinha muitas peças e que acima havia uma especie de telhadinho, oras parecia que apalpava um rabinho de aninal de madeira, oras tocava em um ferrinho que estava na vertical, depois mais outro, mais outro...
- O que será isso? - Pensou Carolina.
- Tire o objecto do saco Carolina. Veja se gostas da surpresa?, - Falou Marcelo também curioso.
- Tira, tira, tira... - Gritavam todos os pequeninos.
Finalmente ela tirou devagarinho e ao mesmo tempo, quase mergulhando a cabeça dentro do saco, como se quisesse ver primeiro. E tirou de lá, muito emocionada, um lindo carrossel de madeira com quatro cavalinhos coloridos, e ainda por cima, quando Carolina fez girar os cavalinhos eles subiam e desciam ao som de uma música de circo. Seus olhos brilharam. Nunca tinha visto um carrossel tão perto e não acreditava que tinha ganho um. Abriu um sorriso largo olhando para todos com satisfação e agradecimento.
Marcos se ajoelhou aos pés dela e disse.
- Agora princesa, fica aqui um bocadinho com eles, que eu vou ver como está o seu pai e pedir para sua mãe vir buscá-la neste piso. Não demoro nada. Fique tranquila. Este palhaço que vês, é o meu irmão, que também é enfermeiro e a boneca-enfermeira, é minha namorada. Os meninos são todos amigos uns dos outros aqui. E todos eles tem problema parecidos. - Disse ele, levantando-se.
- Mas não parecem ter problemas alguns... - Disse Carolina, sem perceber como eles podiam estar tão descontraídos e felizes.
- No fundo eles não sofrem tanto como nós, talvez por terem menos conhecimento da vida e da morte ou por não querem se desligar da vida como parece querer a doença. Eles sofrem de cancêr Carolina. E os cabelos caem devido ao tratamento de quimioterapia, - Disse Marcos, ao mesmo tempo que falava baixinho se encaminhando para porta com ela.
As crianças tinham voltado para os jogos com os palhaços e chamavam a Carolina. Ela atendeu ao apelo, levando o seu carrosel para mostrar a todos.
Quando Marcos saiu, olhou a Carolina carinhosamente e fixou seus olhos azuis. Ela também olhou para ele e retribuiu a mirada meio desconcertada.

viernes, 9 de mayo de 2008

Uma festa diferente

Carolina estava sentada na entrada do corredor da UTI e não conseguia ver o seu pai, apenas uma cama vazia no último quarto em que sua vista alcançava. Via que tudo era tão branco que dava impressão que era um caminho para o céu. Pensava que seu pai nunca mais retornaria.
Continuou a olhar tristemente para as luzes que perspectivavam o chão e todos os brilhos que dela surgiam. Estava completamente concentrada na vontade de ver alguém sair e dar a notícia de que seu pai tinha finalmente morrido ou que já estava fora de perigo, que não ouviu o que o enfermeiro lhe dizia.
- ... O que acha?
- Como? - Disse Carolina, distraidamente.
- Você não estava me ouvindo?
- Sinceramente, não. Peço desculpas. - Respondeu ela, com um ar ainda mais infeliz.
- Não faz mal. Eu só tinha perguntado se você não queria sair um bocado deste corredor. O seu pai está bem. Agora, apesar do Coma, está em observação e em boas mãos. Não se preocupe. O que tiver que acontecer, acontecerá. - Disse-lhe o enfermeiro com amabilidade. - Não temas, - Continuou. - Por vezes sofremos sem necessidade. Agora só tens que confiar e esperar que seu pai tenha força de vontade de viver.
- Não acredito que ele queira mais viver...
- Porque? - Perguntou ele, franzindo as sombrancelhas.
- Por nada. Não é nada. - Respondeu Carolina rapidamente, com medo que ele pensasse que ela tinha algo a esconder.
- Tudo bem. Não faz mal é compreensivo o seu estado de ânimo. Eu acredito que estejas muito cansada e que não queira também falar sobre este assunto. Mas gostaria de lhe mostrar uma coisa. Será que a sua mãe se importa que venhas comigo por uns instantes? - Perguntou o enfermeiro passando as mãos sob seus cabelos loiros.
- Não. Com certeza ela não se importa. Mas você pode perguntar se quiser.
- Muito bem, farei isso. - Disse ele levantando.
Depois que D. Clara autorizou que a Carolina fosse com ele, o enfermeiro se apresentou a ela com o seu nome. Ele se chamava Marcelo Galardo e era estudante de Enfermaria. Tinha 22 anos e era um rapaz muito amável e carinhoso com todos os utentes hospitalizados.
Carolina não fazia idéia para onde Marcelo a estava levando e ele, por não querer estragar a surpresa, não lhe disse nada. Entraram por um corredor, tão parecido ao outro que estava, que era como se ainda não tivesse saído de lá. Subiram por um elevador e saíram em mais um corredor exactamente igual ao de baixo. Finalmente chegaram a uma sala que de longe se ouvia as gargalhadas altas de crianças e adultos. Ficou curiosa. Parecia uma festa.
Andou de mãos dadas com Marcelo até a dita sala e viu perplexa pelo menos dez crianças a rirem-se de um palhaço e uma especie de boneca de pano. Parecia um teatro, mas também parecia um circo. O quarto estava cheio de balões coloridos e bonecos de peluche. Cada criança tinha um brinquedo nas mãos e riam sem parar com as coisas que o palhaço dizia.
Ao mesmo tempo que também ria, percebeu que todas as crianças eram carecas. Não sabia porque, mas imaginou que podia ter sido parte da brincadeira daquela tarde. "Ainda bem que cheguei atrasada, pensou ela".
- Pessoal, tenho aqui uma visita muito especial. Esta é Carolina. - Disse Marcelo, chamando a atenção de todos.
- Olá Carolina!. - Disseram todos em coro.

lunes, 5 de mayo de 2008

A primeira perda

Assim que D. Clara notou a sua presença, ordenou que ela fosse para o quarto e que não saísse de lá enquanto não tivesse terminado os deveres da escola.
- Mas, mãe, hoje é sábado. Posso estudar amanhã..., - Disse Carolina, tentando ficar um pouco mais ao lado de seu pai.
- Não tem mais nem menos. Já disse para subir e acabar os deveres. Quando o jantar estiver pronto, a menina será chamada.
Carolina não teve outro argumento diante daquela voz e olhar que lhe atemorizava. Subiu as escadas lentamente e antes de sair do raio de visão do seu pai, deu um último olhar para ele.
E foi realmente o último, pois com o desmaio, e o traumatismo craniano que teve, e que não se notava, causou-lhe uma hemorragia interna que lhe limitou a vida normal para sempre.
A ambulância o levou naquela noite e os neurocirurgiões após o diagnósticos concluíram que houve uma ruptura directa seguido de uma hemorragia intracerebral. Disseram a D. Clara que o marido teve uma lesão em contra-golpe, causada pela força da aceleração-desaceleração do cérebro dentro do crânio e que pelo facto dele ter desmaiado a seguir, contribuiu para agravar a situação.
Carolina estava presente quando o médico finalmente disse que Sr. Fernando estava em coma e a recuperação iria depender muito de diversos factores, sua idade, sua resistência e capacidade de recuperação de tecidos e finalmente, a sua vontade de viver.
Incrívelmente D. Clara nem lacrimejou. Mas Carolina, a partir daquele instante já não via a sua vida segura ou tranquila ao lado apenas da sua mãe. Cresceu-lhe um pavor tão grande de ficar sozinha, que começou a tremer as mãos e as pernas até que caiu no meio do corredor do Hospital. Sua mãe lhe segurou pelos braços com alguma preocupação, e disse a todos que tentaram auxiliar, que com certeza foi por causa da notícia do seu pai e que logo logo ficaria bem.
De facto, Carolina levantou-se segurada pela mão de D. Clara e encostou-se na parede branca e fria do corredor para voltar a recuperar o seu equilíbrio.
Os médicos que estavam reunidos com ela, já aliviados com a menina, continuou dizendo que Sr. Fernando estava em coma profundo e que tinha apenas quinze por cento de chance de melhorar.
Carolina, saiu devagarinho do lado da sua mãe e foi sentar em uma cadeira que estava próxima à porta do corredor que seu pai se encontrava. Ela não o podia ver ainda. Estava em observação na UTI e todos os cuidados estavam a ser tomados. Os médicos por sua vez, continuavam a conversa com D. Clara e perguntavam a ela como tudo aconteceu, caso soubesse. E ouviu a sua mãe repetir a mesma conversa que tinha tido com Sr. Marcos. Mais uma vez Carolina se sentiu enjoada e seu coração dava tantos pulos que até pensou que alguém pudesse ouvir. Tentou controlar-se, mas o médico mais jovem, notava todos os passos e reacções de Carolina depois da sua queda. Aproximou-se dela para entretê-la em uma conversa cálida.
- Como está se sentindo agora? - Perguntou ele, com amizade e profissionalismo.
- Já estou melhor. Não foi nada. - Disse Carolina, tentando disfarçar o segundo mal estar.
- Noto que está outra vez com dificuldades de respirar... Sabe de uma coisa, é por estes motivos que nós não costumamos autorizar os menores a ouvirem conversas de adultos ou o que os médicos tem a dizer de seus parentes hospitalizados, mas a sua mãe insistiu dizendo que você já era crescida e podia aguentar todo tipo de notícia. Assinou um protocolo de responsabilidade e aqui está você Carolina Pignar...
- Por favor, não me chame com este nome. - Disse Carolina, com desgosto. Prefiro que me chame só de Carolina.
- E será que podia chamar de Carol?
- Pode. - Falou Carolina, baixando a cabeça e deixando cair as lágrimas finalmente.

domingo, 4 de mayo de 2008

"El Trato"

Seu pai ainda estava meio zonzo da pancada que levou na cabeça. Carolina pensou que ele não devia ter partido nada, porque não via sangue. E estava tão aliviada quanto ficou quando percebeu que o coelhinho também não parecia sentir dores ou que o problema de ambos fosse mais grave.
Ficou ali a olhar o jeito que o seu pai olhava para os pés da sua mãe... Ou talvez não estivesse a olhar para os pés dela. Parecia mais distraído e distante, mas só olhava naquela direção. Ela não achou que ele não estava verdadeiramente bem afinal. Deveria estar tão triste e envergonhado que mergulhava em uma depressão que até dava dó. "Pobre homem", pensou Carolina. Incrivelmente, seu pai é filho de uma família conservadora que ainda pensava em ter filhos e prometê-los a filhos de outros casais amigos e bem equilibrados na vida, como garantia de seus futuros. Mas no caso do pai de Carolina, a história tradicional das filhas prometidas aos filhos de pais ricos, foi o oposto. Ele era o filho pobre, que em uma noite de bebedeira do meu avô, prometeu que seu filho quando estivesse em idade de casar, casaria com a filha feia daquele senhor. Ficou tudo combinado e brindado com alegria. No dia seguinte, a avó de Carolina chorava quando soube da promessa. Contavam que a "Clara, monstro" era feia por dentro e por fora. Manipulava as pessoas, era mentirosa e preconceituosa. Ninguém nas redondezas ou vizinhança gostava dela. Esta história a Carolina ouvia até na escola. Por vezes, alguns meninos maus, lhe chamavam de "bastarda" e ela não sabia o que significava, e por outras chamavam de "el trato". E ela atribuía o apelido à consequência do trato do seu avô. Pobre Carolina. Por vezes se sentia em um mundo que todos pareciam ser maus para todos. E mesmo assim, se conservava uma criança sossegada, curiosa e amável. Acreditava que um dia pudesse ser feliz e descobrir que havia outro lado da vida que seria melhor do que este. Talvez quando crescesse...

sábado, 3 de mayo de 2008

O inesperado

Sua mãe em um ataque de fúria, deu uma grande bofetada na cara de seu pai. E em um segundo, ele bateu com a cabeça no vidro lateral da janela do carro e desmaiou em seguida.
Carolina assistiu a tudo de longe, ao mesmo tempo que o coelho despertava em suas mãos. Parecia que estava bem, mas quando tentou colocá-lo no chão, viu que afinal ele tinha dificuldade em andar. Parecia ter uma pata partida. Voltou a olhar para o carro de seus pais e viu a sua mãe em cima dele a tentar despertá-lo. Chorava copiosamente e chamava por Carolina.
Ela então colocou o coelho em uma caixa vazia que ainda tinha umas poucas ferramentas e correu para ajudar a seu pai.
- Carolina, vá correndo chamar o vizinho, Sr. Marcos. Diga-lhe para me vir ajudar que eu não sei o que aconteceu. Diga-lhe que seu pai está desmaiado dentro do carro.
Carolina sabia que o desmaio não foi por acaso e que ela era culpada daquilo ter sucedido. Saiu a correr à procura do vizinho e foi todo o caminho odiando a sua mãe mais do que já lhe odiava. Encontrou o Sr. Marcos no jardim a lavar o carro e com as mãos cheias de sabão, ouviu a voz aflita de Carolina e sentiu a urgência do seu pedido.
Quando Sr. Marcos chegou, levou o pai de Carolina para dentro de casa, carregado em seus braços. Sua mãe, estava convencida de que ninguém a tinha vista bater nele e sustentava a idéia de que tudo aconteceu de repente.
- Mas o que aconteceu, D. Clara...
- Não sei ao certo. Antes, quando vinhamos a caminho de casa, Fernando atropelou um coelho na estrada. É possível que com o impacto tenha batido com a cabeça no vidro e como eu autorizei à menina que podía trazer o animal para casa contra a vontade dele, ficou furioso. Talvez tenha estado a aguentar a raiva e a pancada até chegar à casa. E quando parou o carro, desmaiou.
- É possível, é possível... Disse Sr. Marcos, acreditando na história dela.
Carolina, saiu dali a correr. Tinha vontade de vomitar e se não fosse o castigo que poderia sofrer, tinha dito a Sr. Marcos exactamente o que ela viu. Mas também sabia que ninguém iria acreditar na versão de uma criança.
Encontrou o coelhinho parado a cheirar as ferramentas sujas de óleo. Parecia mais calmo e como não se mexia, tão pouco sentia a dor da pata partida. Pegou um pedaço de trapo, partiu um pincel velho e fino que estava ali e colocou amarrado na patinha dele. O coelho não tinha reacção alguma. Era como não se importasse com a dor. Deixou-o mais uma vez e foi ver como estava o seu pai.
- Agora, dê-lhe um pouco de água e por favor, não o deixe dormir. Vou chamar uma ambulância para ver se está tudo bem com a sua cabeça, dizia Sr. Marcos, depois de ter acordado o pai de Carolina.
Saiu a correr para fazer a chamada para o Hospital e deixou Carolina encostada à porta olhando para a mãe com desprezo. D. Clara não notava que Carolina soubesse de algo e deu pouca importancia à sua presença.

viernes, 2 de mayo de 2008

socorro ao coelho

Deu a mão à sua mãe, que não parecia nem um pouco preocupada com seu momentâneo desaparecimento. Mas não deixou de reclamar por ter sujado a roupa com chocolate. Carolina não lhe ouvia as palavras irritadas, nem sentia os gestos que fazia bruscamente tentando lhe limpar o vestido. Estava ainda pensando no rosto da mulher que viu na esquina. Perguntava-se porque teria ela um queixo com uma mancha roxa. Será que tinha caído? Será que o bebé nos seus braços estaria morto? Ou será que alguém lhe bateu?. Olhou mais uma vez para trás e percebeu que a senhora já não estava ali. Entretanto encontrou o meu olhar com a mão a acenar-lhe com um lenço branco e a sorrir satisfeito por ela já estar acompanhada por seus pais.
Carolina foi todo o caminho a pensar na pobre mulher. Mas ao mesmo tempo estava ansiosa para chegar à casa e conversar com seu peixinho dourado. Era para ele que contava todas as suas peripécias do dia e por vezes até parecia que queria lhe dizer algo. Pensou ela, que um dia iria ensinar Jeremias a falar. Mas também pensava que seria impossível que ele fizesse isso dentro d'água.
Enquanto ia a pensar em suas coisinhas no banco de trás do carro, percebia na cara de seus pais, que eles não deviam estar lá muito satisfeitos com a vida. Tinham os dois, as cara mais sérias que um dia ela possa ter visto neles. Não falavam uma palavra e a mãe estava sempre com o rosto virado para a paisagem à sua direita. Seu pai, conduzia com atenção, mas por vezes saía da estrada distraídamente. Quando ela se assustou e gritou:
- Cuidado, pai!
Não deu tempo. Seu pai tinha acabado de atropelar um coelhinho. Parou o carro bruscamente e foi ver que espécie de animal tinha tido o azar de tamanha desgraça. Viu que o animal ainda se debatia de dores, mas não estava morto. Carolina que tinha saído do carro sem autorização, começou a chorar e pedir para levar o coelhinho com ela. Seu pai não queria e disse para ela soltar o animal à sua sorte. Não queria nenhum bicho lá em casa. Muito menos aleijado.
Sua mãe, que até aquela hora não se tinha manifestado, como se para contrariar o seu marido, disse a Carolina que não havia mal nenhum que ela levasse o coelhinho para casa. Desde que ela prometesse que cuidaria dele e limparia toda a sua porcaria. Mesmo sabendo que o porbre bicho não teria muitas hipóteses de vida.
Carolina nem acreditava na autorização e seu pai olhou irritadamente para sua mãe, entrando nervosamente para o carro. Então ela embrulhou o coelho na saia do seu vestido branco de florzinhas vermelhas e o levou para o carro. Ele parecia assustado e tremia todo o corpo, mas não tinha sangue em parte alguma. Ela passou toda a vigem a lhe acariciar o pelo cinzento tentando acalmá-lo e quando se sentiu seguro, dormiu.
Carolina, esqueceu completamente dos aborrecimentos de seus pais. E sabia perfeitamente que o coelhinho no seu colo era um pretexto de dicussão que a seguir implicaria à ela um envolvimento mais amiúde na família.
Quando chegou à casa, Carolina foi a primeira a sair correndo do carro. Na verdade não queria ouvir nenhuma advertência que a partida imaginava ela que já sabia. Gritou sem olhar para trás que iria dar o socorro para o coelhinho antes que ele morresse.
Seus pais não saíram do carro, nem mencionou palavra. Ficaram lá dentro ainda por uns minutos, calados sem olhar um para o outro.
Carolina, entrando na casa de ferramentas e primeiros socorros, que tinha seu pai em uma casota construída propositamente, olhou para trás para ver qual tinha sido a reacção deles quando viu sem querer aquilo que jamais pensava que pudesse acontecer...

jueves, 1 de mayo de 2008

Carolina só...

Aquele chocolate estava com certeza muito bom ou ela tinha muita fome, pois quando começou a comer, lambuzou toda a roupa e a carinha de anjo, com os sabores do cacau adocicado.
Enquanto comia, eu a mirava e me perguntava de onde poderia ter saído tão linda menina. Paguei o chocolate e saí com ela da loja para ver se dando uma volta pela calçada, eventualmente encontraria a sua família.
- De onde você veio?
- D'ali - respondeu a menina misteriosa como se lembrasse afinal alguma coisa. -Estou com meu pais. Eles estão nas compras e eu ando um pouco pela cidade enquanto espero.
- Ah, bom. Confesso que pensei que você estivesse perdida e esquecida. Estava com um ar tão taciturno que não sabia o que pensar. Como te chamas? - Perguntei, ainda desconfiado.
- Carolina. Meu nome é Carolina só.
- Carolina Só?
- Não, tenho outro nome depois de Carolina, mas não gosto. Disse ela, explicando.
-Não faz mal. Não tenho interesse em saber o seu nome completo. Não acha que já está na hora de voltar para junto de seus pais? Já devem estar preocupados.
- Não. Na verdade não tenho vontade nenhuma. Eles não gostam de mim. Disse ela, abaixando a cabeça.
- Bobagem! - corrigi. - Por vezes pensamos que as pessoas não gostam de nós, mas é porque cada um tem uma forma de demonstrar. Não se preocupe. Com certeza eles gostam de ti e neste momento já estão preocupados. Olha lá aquele casal na porta daquela loja. Parecem procurar alguém.
- São eles. São os meus pais adotivos. - Disse ela, mais uma vez abaixando a cabeça tristemente. - Não quero voltar para casa com eles.
- Desculpe-me pequenina, mas tens que voltar com eles. Ninguém em parte alguma pode ficar contigo a cargo. Você só pode sair de casa e da responsabilidade dos seus pais quando tiveres dezoito anos. Até lá, tem que ser alimentada, alfabetizada e conviver com eles. Quando tiveres idade para sair de casa para viver a sua vida, terei muito prazer em ajudá-la. Agora vá. Eles já estão com ar de preocupados.
Carolina, deu dois passos para frente e depois olhou para trás dizendo, "Eu não vou esquecer do que me disse. Nem do seu rosto. Quando fizer dezoito anos venho lhe procurar".
- Mas você não me conhece. Já agora me apresento, sou Jonas Almeida, ao seu dispor. - Disse-lhe mostrando a minha mão para um cumprimento mais formal.
Carolina sorriu e foi lentamente ao encontro dos seus pais. Ia com pouca vontade, quando notou o olhar de uma mulher que estava parada em uma esquina com uma criança nos braços e ao que parecia, uma mancha roxa no queixo.

miércoles, 30 de abril de 2008

Carolina chega à cidade

Em frente a um lago, uma mulher pensava em sua vida.
Não estava só. Com ela estava o seu cão. Seu amigo fiel e cúmplice de suas lágrimas. Chama-se Carolina. Tem hoje 86 anos e uma vida inteira para recordar.
Eu sou um velho amigo dela e vou lhes contar a história de Carolina. Uma mulher, cuja educação esmerada não veio de berço, cuja pele enrugada conta demasiadas histórias de sofrimento e dor. Mas também, uma mulher que apesar de tudo o que passou, teve capacidade para amar e perdoar como ninguém.
Carolina Pignar, conhecida por todos por Dona Carol. E carinhosamente apelidada de "Nossa Senhora Carol", ou apenas "nossa Carol". Chegou à cidade de Mayerland com apenas dez anos de idade e falava pouco e com medo. Não conhecia ninguém na cidade e não tinha muitas informações familiares para contar a ninguém. Naquele dia, usava um vestido branco com umas flores pequenas e vermelhas, calçava um sapato da época também branco, mas este envernizado e limpo. Parecia saída de um livro de conto de fadas. Com seus cabelos loiros de nuances douradas, olhava para todos com curiosidade e amizade. Não parecia ter fome, nem necessidades, mas deambulava sozinha de um lado para o outro, como se estivesse à procura de algo que não encontrava.
Quando a vi, imaginei que estivesse perdida e me encaminhei para ela pensando em lhe oferecer ajuda.
- Olá. Estás sozinha? Onde estão os seus pais? - Perguntei amavelmente.
Carolina não respondeu e eu olhei mais uma vez para todos os lados à procura de um sinal de alguém que a procurasse. Não vi ninguém com cara de preocupado e ninguém percebeu que eu não era o seu verdadeiro acompanhante. Naturalmente as pessoas pensaram que eu seria o avó da pequena Carolina, e deram pouca importância à nossa presença.
- Queres um chocolate? Gostaria de comer uma grande e deliciosa barra?. – Perguntei.Carolina disse que sim e seguiu-me inocentemente para dentro de uma loja que estava próxima. Comprei-lhe assim, um grande chocolate embalado em papel vermelho e disse-lhe que combinaria com sua roupa e sapatinho. Ela se riu divertida e abriu a embalagem com cuidado para que no final pudesse guardar o papel como lembrança. Falou-me que tinha mania de guardar tudo o que achava importante.
Bem, não pensem vocês que eu sou algum pedófilo. Não! Fiquei encantado com a menina desde quando a vi. Tão bonita, como um anjo. Gosto de crianças e não tenho capacidade para tratar-los mal. O que eu quero, é lhes contar a história dessa em especial, que se chama Carolina, e que hoje é uma senhora.

Uma história que tenho para contar

Em sinal de agradecimento aos meus leitores, venho com muito carinho escrever uma história que aconteceu há muitos, muitos anos...

Essa é a minha idéia de novela. Mas a verdade é que começo aqui a minha odisséia de aprendizagem que de certo vou aprender passo a passo com vocês e a minha imginação em toda esta trama.

Vi em um site (http://educaterra.terra.com.br/literatura/temadomes/2003/06/06/000.htm), uma definição interessante de "Novela" e transcrevo para que não me esqueça do que a narrativa espera de mim...

..."De resto, a novela ultrapassa o conto pela construção melhor elaborada de um personagem central e pela relativa ampliação do tempo e do espaço. Mas, em relação à infinidade de situações registradas por qualquer romance, a novela apresenta um número pouco significativo de acontecimentos.Sua ênfase, portanto, recai sobre o personagem, como no gênero romanesco. Só que neste, o protagonista é construído por uma multiplicidade de eventos, enquanto na novela o personagem se afirma existencialmente em apenas uma ou em algumas poucas situações."