jueves, 5 de junio de 2008

Os mágicos dias da minha vida

Carolina saiu do Hospital sem uma resposta ou reacção do seu pai, mas ainda sentia a pressão da mão dele sobre a sua. Não conseguiu ver o enfermeiro Marcelo, nem sua mãe deixou que ela fosse ver os meninos da oncologia. Foi durante todo o caminho, a olhar as ruas, as pessoas, e reparou a quantidade de gente que andava de mãos dadas à outra. Via a alegria e a cumplicidade na cara de cada um, e lembrou-se dela com pena. Não lembrava de ter tido um amigo, e sequer tinha algum na sua escola. Sabia que era uma menina muito tímida e fechada, mas nunca, nenhum dos rapazes ou raparigas se aproximou dela para fazer algum tipo de conversa, que não fosse dentro da sala de aula, e por motivos lógicos.
D. Clara, por ser aniversário de Carolina, deixou-a passar todo o dia na casa da sua avó e disse, por milagre, que não precisava ir à Escola. Levou-a até o Hospital para ver Sr. Fernando e a deixou outra vez na casa da avó.
D. Amélia, era uma mulher adorável. Não sabia da falta de carinho que sua filha dava a Carolina. Imaginava, que Carolina, era a criança mais feliz do mundo. Comprou-lhe um diário com capa de veludo verde escuro, com umas florzinhas douradas pintadas a um canto direito. Por cima, com letras pequenas e delicadas, estava escrito: "Os mágicos dias da minha vida".
Carolina recebeu este presentinho da sua avó, assim que a sua mãe arrancou com o carro em alta velocidade. Alegava que tinha muita pressa e que não podia estar com Carolina.
- Gostou, minha linda? - Perguntou sua avó, amavelmente. - Foi eu mesma que forrei e pintei as flores. A frase, foi escrita por Serginho. É um rapaz da sua idade que mora aqui ao lado. Sabes que sua avó não sabe escrever... Mostrei ao Serginho o presentinho que estava fazendo para seu aniversário e ele disse que se você era tão especial quanto eu lhe dizia, que então, merecia também uma frase especial. Daí escreveu isto. - Gosta?, - insistiu ela, preocupada.
- Muito avó. Muito mesmo. - Disse Carolina, emocionada.
Neste momento, ouviram um barulho por detrás da porta. Olharam surpresas e viram que estava um rapazinho assustado a olhar para elas.
- Desculpe D. Amélia. Eu estava aqui desde o início. Vocês não me viram entrar, porque a porta estava aberta. Tinha curiosidade de saber se sua neta tinha gostado do presente. E trouxe outra coisa, caso ela não ficasse satisfeita por eu ter escrito no livro que a senhora fez...
- Olá... - Disse Carolina, timidamente. - Eu gostei do que escreveste...
- Olá Serginho, esta a minha neta Carolina, como já sabes... - Disse D. Amélia, a sorrir da maneira que o Serginho encontrou para conhecer Carolina. - Entre, entre, não fique aí atrás da porta. Vamos comer um bolo que eu fiz para Carolina. Os dois se olharam envergonhados e seguiram D. Amélia até a cozinha, com um afastamento de dois metros um do outro.

No hay comentarios: