viernes, 9 de mayo de 2008

Uma festa diferente

Carolina estava sentada na entrada do corredor da UTI e não conseguia ver o seu pai, apenas uma cama vazia no último quarto em que sua vista alcançava. Via que tudo era tão branco que dava impressão que era um caminho para o céu. Pensava que seu pai nunca mais retornaria.
Continuou a olhar tristemente para as luzes que perspectivavam o chão e todos os brilhos que dela surgiam. Estava completamente concentrada na vontade de ver alguém sair e dar a notícia de que seu pai tinha finalmente morrido ou que já estava fora de perigo, que não ouviu o que o enfermeiro lhe dizia.
- ... O que acha?
- Como? - Disse Carolina, distraidamente.
- Você não estava me ouvindo?
- Sinceramente, não. Peço desculpas. - Respondeu ela, com um ar ainda mais infeliz.
- Não faz mal. Eu só tinha perguntado se você não queria sair um bocado deste corredor. O seu pai está bem. Agora, apesar do Coma, está em observação e em boas mãos. Não se preocupe. O que tiver que acontecer, acontecerá. - Disse-lhe o enfermeiro com amabilidade. - Não temas, - Continuou. - Por vezes sofremos sem necessidade. Agora só tens que confiar e esperar que seu pai tenha força de vontade de viver.
- Não acredito que ele queira mais viver...
- Porque? - Perguntou ele, franzindo as sombrancelhas.
- Por nada. Não é nada. - Respondeu Carolina rapidamente, com medo que ele pensasse que ela tinha algo a esconder.
- Tudo bem. Não faz mal é compreensivo o seu estado de ânimo. Eu acredito que estejas muito cansada e que não queira também falar sobre este assunto. Mas gostaria de lhe mostrar uma coisa. Será que a sua mãe se importa que venhas comigo por uns instantes? - Perguntou o enfermeiro passando as mãos sob seus cabelos loiros.
- Não. Com certeza ela não se importa. Mas você pode perguntar se quiser.
- Muito bem, farei isso. - Disse ele levantando.
Depois que D. Clara autorizou que a Carolina fosse com ele, o enfermeiro se apresentou a ela com o seu nome. Ele se chamava Marcelo Galardo e era estudante de Enfermaria. Tinha 22 anos e era um rapaz muito amável e carinhoso com todos os utentes hospitalizados.
Carolina não fazia idéia para onde Marcelo a estava levando e ele, por não querer estragar a surpresa, não lhe disse nada. Entraram por um corredor, tão parecido ao outro que estava, que era como se ainda não tivesse saído de lá. Subiram por um elevador e saíram em mais um corredor exactamente igual ao de baixo. Finalmente chegaram a uma sala que de longe se ouvia as gargalhadas altas de crianças e adultos. Ficou curiosa. Parecia uma festa.
Andou de mãos dadas com Marcelo até a dita sala e viu perplexa pelo menos dez crianças a rirem-se de um palhaço e uma especie de boneca de pano. Parecia um teatro, mas também parecia um circo. O quarto estava cheio de balões coloridos e bonecos de peluche. Cada criança tinha um brinquedo nas mãos e riam sem parar com as coisas que o palhaço dizia.
Ao mesmo tempo que também ria, percebeu que todas as crianças eram carecas. Não sabia porque, mas imaginou que podia ter sido parte da brincadeira daquela tarde. "Ainda bem que cheguei atrasada, pensou ela".
- Pessoal, tenho aqui uma visita muito especial. Esta é Carolina. - Disse Marcelo, chamando a atenção de todos.
- Olá Carolina!. - Disseram todos em coro.

No hay comentarios: