viernes, 16 de mayo de 2008

A mãe

(Para quem já leu uma vez esta Folha 12, aconselho ler outra vez, pois modifiquei algumas frases e completei a mesma como prometi)

Já em seu quarto, Carolina não foi atirar-se para a cama como era suposto. Incrivelmente, abriu a gaveta da sua escrivaninha e tirou de lá uma fotografia que por sua vez, tinha um dia tirado da gaveta do seu pai. Sr. Fernando nunca tinha falado nada sobre o assunto, e ela sempre esperou que ele desse pela falta do retrato. Agora já sabe porque o pobre homem nunca falou nada. "Seria a foto daquela mulher, a sua mãe?". Pensou Carolina.
Segurou delicadamente na fotografia meio gasta e com algumas vincos já craquelados do papel. Levou até a sua cama, com passinhos pequenos e silenciosos. Não tinha pressa para chegar e admirava com carinho o rosto da senhora. Tinha cabelo curtos e ondulações bem feitas e bem marcadas. Negros, como não são os de Carolina. Mas agora ela via, que realmente D. Clara tinha razão. A sua cara era exactamente igual a daquela mulher... Seu coração acelerou. E parecia que os olhos que a miravam da fotografia, penetrava directamente nos seus e lhe atingia como um raio.
E pior do que ter a fotografia e a revelação, foi a lembrança do dia anterior.
Como um flash back, Carolina viu a imagem daquela mulher que tinha uma mancha roxa no queixo... Sua mente lhe transmitiu um calafrio na espinha e antes que chegasse a sentar na cama, flexionou o joelho em um impulso contrário. "Seria ela a sua mãe? Meu Deus!!", assustou-se Carolina, com o que tinha pensado. Ficou apavorada e seu coração já não queria aguentar no peito. Pulava tanto que quase se ouvia sem auscutar. Pum bum, pum bum, pum bum...
Ela tinha que encontrar uma maneira de encontrar sua mãe outra vez. Tinha que ter certeza se era ela que a estava a olhar da esquina. E se levava uma criança ao colo... As perguntas e as dúvidas saltavam de um lado para o outro em sua cabeça e por um segundo lhe pareceu que iria desmaiar. Sentou-se e recostou lentamente as costas na cama.
- Tenho que encontrar a minha mãe... - Murmurou.
A princípio daquela noite, Carolina não conseguiu dormir. Mas em uma espécie de sonho acordado, viu-se a encontrar com a sua mãe em uma sala de apoio social. Imaginava que aquela mulher que viu na cidade tivesse problemas financeiros, pois estava pobremente vestida e trazia um bebê ao colo. Aquela mancha no rosto, poderia ter sido de alguma violência feita por seu companheiro, ou melhor, preferia pensar que a senhora tivesse caído e batido o queixo no chão. "Oxalá...", pensou Carolina, tentando não pensar em muitos sofrimentos que ela pudesse ter tido, visto que esperava que fosse realmente a sua mãe.
Viu-se na sala e mentalizou o encontro das duas como um filme de amor. Abraçou-a como se tivessem saudades uma da outra e tamanho foi o esforço mental, que um lágrima lhe escorreu do canto do olho e entrou no seu ouvido. Carolina não se importou com incômodo da água salgada que lhe entrava pelo orifício. Sentia que esta lágrima lhe ligava às lembranças de uma mãe que nunca teve. Assim, deixou que esta lágrima fosse uma mensagem que lhe chegava aos ouvidos.
Carolina assim dormiu. Com uma lágrima a acalentar como uns braços de mãe.

4 comentarios:

Ilaine dijo...

Joice!

Lindo! Ao terminar um capítulo já procuro por outro, pois a história está se tornando cada vez mais palpitante. A narrativa é cheia de detalhes, caracterizando nitidamente os personagens. Carolina é encantadora.

A gente se vê nos próximos capítulos: inéditos!

Joice Worm dijo...

Muito legal Ilaine. Agora é que a minha motivação ganha mais força. Vamos ver o que Carolina nos conta mais...
Um beijo grande para ti!

Beto Mathos dijo...

Você é sempre linda em seus comentários, em seus textos, divagações e poemas.
Grande beijo!

Joice Worm dijo...

Obrigada Beto. Fiquei feliz por saber que você também passa por aqui. Este é um ensaio de uma novela, mas com intenção de melhorar.
(Olha quem fala de belos textos e poemas... Você escreve como se a pluma da imaginação fosse a sua tinta permanente, Beto.)
Grande beijo para ti!