lunes, 5 de mayo de 2008

A primeira perda

Assim que D. Clara notou a sua presença, ordenou que ela fosse para o quarto e que não saísse de lá enquanto não tivesse terminado os deveres da escola.
- Mas, mãe, hoje é sábado. Posso estudar amanhã..., - Disse Carolina, tentando ficar um pouco mais ao lado de seu pai.
- Não tem mais nem menos. Já disse para subir e acabar os deveres. Quando o jantar estiver pronto, a menina será chamada.
Carolina não teve outro argumento diante daquela voz e olhar que lhe atemorizava. Subiu as escadas lentamente e antes de sair do raio de visão do seu pai, deu um último olhar para ele.
E foi realmente o último, pois com o desmaio, e o traumatismo craniano que teve, e que não se notava, causou-lhe uma hemorragia interna que lhe limitou a vida normal para sempre.
A ambulância o levou naquela noite e os neurocirurgiões após o diagnósticos concluíram que houve uma ruptura directa seguido de uma hemorragia intracerebral. Disseram a D. Clara que o marido teve uma lesão em contra-golpe, causada pela força da aceleração-desaceleração do cérebro dentro do crânio e que pelo facto dele ter desmaiado a seguir, contribuiu para agravar a situação.
Carolina estava presente quando o médico finalmente disse que Sr. Fernando estava em coma e a recuperação iria depender muito de diversos factores, sua idade, sua resistência e capacidade de recuperação de tecidos e finalmente, a sua vontade de viver.
Incrívelmente D. Clara nem lacrimejou. Mas Carolina, a partir daquele instante já não via a sua vida segura ou tranquila ao lado apenas da sua mãe. Cresceu-lhe um pavor tão grande de ficar sozinha, que começou a tremer as mãos e as pernas até que caiu no meio do corredor do Hospital. Sua mãe lhe segurou pelos braços com alguma preocupação, e disse a todos que tentaram auxiliar, que com certeza foi por causa da notícia do seu pai e que logo logo ficaria bem.
De facto, Carolina levantou-se segurada pela mão de D. Clara e encostou-se na parede branca e fria do corredor para voltar a recuperar o seu equilíbrio.
Os médicos que estavam reunidos com ela, já aliviados com a menina, continuou dizendo que Sr. Fernando estava em coma profundo e que tinha apenas quinze por cento de chance de melhorar.
Carolina, saiu devagarinho do lado da sua mãe e foi sentar em uma cadeira que estava próxima à porta do corredor que seu pai se encontrava. Ela não o podia ver ainda. Estava em observação na UTI e todos os cuidados estavam a ser tomados. Os médicos por sua vez, continuavam a conversa com D. Clara e perguntavam a ela como tudo aconteceu, caso soubesse. E ouviu a sua mãe repetir a mesma conversa que tinha tido com Sr. Marcos. Mais uma vez Carolina se sentiu enjoada e seu coração dava tantos pulos que até pensou que alguém pudesse ouvir. Tentou controlar-se, mas o médico mais jovem, notava todos os passos e reacções de Carolina depois da sua queda. Aproximou-se dela para entretê-la em uma conversa cálida.
- Como está se sentindo agora? - Perguntou ele, com amizade e profissionalismo.
- Já estou melhor. Não foi nada. - Disse Carolina, tentando disfarçar o segundo mal estar.
- Noto que está outra vez com dificuldades de respirar... Sabe de uma coisa, é por estes motivos que nós não costumamos autorizar os menores a ouvirem conversas de adultos ou o que os médicos tem a dizer de seus parentes hospitalizados, mas a sua mãe insistiu dizendo que você já era crescida e podia aguentar todo tipo de notícia. Assinou um protocolo de responsabilidade e aqui está você Carolina Pignar...
- Por favor, não me chame com este nome. - Disse Carolina, com desgosto. Prefiro que me chame só de Carolina.
- E será que podia chamar de Carol?
- Pode. - Falou Carolina, baixando a cabeça e deixando cair as lágrimas finalmente.

2 comentarios:

Fernanda dijo...

Joice, o pai da Carolina chama-se Sr. Carlos ou Sr. Fernando?

A situação familiar da Carolina começa a inquietar-me imenso. Já temo por ela.

Bjs

Joice Worm dijo...

Sr. Fernando... ops. Já corrigi. Obrigada amiga!!