viernes, 23 de mayo de 2008

Um momento de emoção

D. Clara levou Carolina ao Hospital um pouco a contragosto, pois não se sentia mais aliviada por ter tido aquela conversa com ela. Mas, ao contrário do que se esperava, passou toda a manhã a pensar na sua própria vida. Tentava organizar mentalmente o que faria depois da morte do seu marido e não tinha decidido ainda se incluiría Carolina. Pensava que na verdade, ela não era uma criança difícil, mas não conseguia aceitá-la por ser ela a filha de um relacionamento extra-conjugal. Assim, cada vez que a imagem da mãe de Carolina vinha à sua cabeça, seu humor e sensatez iam definitivamente embora. E seu descontrole, atingia fatalmente à Carolina.
- Espere-me aqui. Vou falar com Enfermeira e ver se Fernando já pode receber visitas. - Disse D. Clara, com alguma paciência para Carolina.
Ela consentiu abaixando a cabeça e procurando um lugar para sentar. Estava no hall de entrada dos corredores dos quartos de tratamentos. Viu vezes sem conta, o passar de auxiliares, enfermeiras e médicos que subiam e desciam pelos elevadores. Também viu, infelizmente, uma maca a passar com um corpo coberto até a cabeça, saindo provavelmente da sala de UTI. Não pensou que fosse o seu pai, pois o tamanho era muito menor que o dele. Seu Fernando era alto e bonito, lembrava Carolina com saudades, dando um suspiro, tanto pela suposta morte do paciente, como pelo lamento da situação do seu pai.
Esperou pelo menos quinze minutos até que veio D. Clara lhe chamar.
- Seu pai está no quarto 218 em observação. Não mexa em nada. Ele está dormindo, portanto não pode lhe ouvir. Vou falar com o médico enquanto você vai vê-lo. Não demore lá dentro. Venha se encontrar comigo aqui neste mesmo local.
Carolina já estava acostumada a ser mandada por D. Clara, para aqui e para ali, e raramente ela lhe acompanhava. Apesar de esta atitude lhe forçar a ser independente, houve ocasiões em que ela necessitava de apoio e não teve. Carolina entretanto, entrou no corredor com o coração aos saltos. Estava tão feliz de ver o seu pai, que não se importava dele estar dormindo.
Entrou e o viu ligado às máquinas. O som da máquina de medir os batimentos cardíacos era tranquilizador. Parecia o som de um coração metálico. Pi... pi... pi... pi... pi...
Aproximou-se da cama e segurou na mão do seu pai. Olhou-o com carinho e deixou uma lágrima cair dos seus olhos. Com aquele toque de mãos, Carolina sentiu que há muito tempo não lhe segurava assim. Sentiu a força que tinha o seu pai, ao ver que tinha ele uma mão grande e rígida, ao contrário das dela que eram pequenas e muito macias. Ficou um tempo a admirar as duas mãos.
Carolina, sem saber porque, começou a conversar com seu pai, esquecendo que ele não a podia ouvir.
- Sabe pai, eu tenho uma coisa para lhe confessar. - Disse Carolina, com a cabeça baixa e os olhos mirando a mão, veias e unhas dele. - Um dia eu fui ao seu quarto e na sua ausência remexi na gaveta do seu lado da cama. Já não me lembro o que buscava, mas talvez tenha sido levada por uma vontade de descobrir porque eu não sentia que minha mãe não era mesmo a minha mãe. Procurava um segredo e encontrei um retrato. Não sei se deu por falta dele, pois nunca me questionaste sobre isto. Quero lhe dizer que apesar de não saber quem é, ainda o tenho comigo. Agora que estás nesta cama, penso que não valerá a pena devolver. Vou ficar com a fotografia e só a devolvo se você mesmo me pedir. É pena que não podes falar comigo e dizer-me quem é aquela senhora, mas confesso que gostaria de pensar que ela é a minha mãezinha verdadeira...
Carolina foi interrompida pela Enfermeira.
- Desculpe-me minha querida, mas temos que fazer um exame no paciente. Pode dar um beijinho nele se quiser, volto em um instante, mas aconselho que vá ao encontro da sua mãe. Ela lhe espera.
- Sim senhora. - Respondeu amavelmente Carolina.
Então soltou delicadamente a mão do seu pai e colocou seus pezinhos em pontas para acançar o seu rosto, quando percebeu que havia uma lágrima a lhe escorrer no canto dos olhos. Abriu os olhos de espanto e lhe enxugou a lágrima.
Quando a enfermeira retornou, Carolina perguntou se era possível que ele a tivesse ouvido falar com ele e a enfermeira confirmou. Disse que normalmente as pessoas em estado de coma, costumam ouvir as conversar que se passa em sua volta. Assim contam algum, quando saem deste estado e retornam à vida normal.
Carolina aproveitou para beijar outra vez o seu pai e dizer a ele que voltava no dia seguinte. E ainda mais feliz ficou por ver que ele se emocionou com o que ela falara. Será que estava feliz em saber que Carolina afinal já estava perto da verdade?

2 comentarios:

Ju dijo...

estou lendo de cima para baixo... super interessante!
beijo, obrigada pela narrativa!

Joice Worm dijo...

Oi Ju,
Obrigada pela sua visita à Novela da Vida, mas julgo que se seguisse a mesma desde a Folha 1 era mais emocionante. Cada folhinha eu deixo um aperto no coração para a próxima do dia seguinte. De qualquer forma, quero que encare esta novela como um ensaio. Estou treinando para escrever melhor e a opinião dos meus leitores é imprescindível.